Opinião

Até ao tutano

Foi no mínimo ultrajante o anúncio do Primeiro-ministro na noite de sexta-feira, 7. Apesar do aviso do Presidente da República, aquando do último anúncio, de que os portugueses estavam no seu limite, Passos Coelho enfiou mais um murro certeiro no estômago de quem o ouviu. Não sabe o que diz. E pior. Não sabe o que faz. E o que vai fazendo nos intervalos é mau demais para ser verdade. Este supera os momentos políticos mais desastrados da história recente. Disse aos rotos e esfarrapados dos portugueses que lhes ia retirar a pouca roupa que lhes resta. Uma espécie de Sheriff de Nottingham na história de Robin Hood. E disse que voltaria a tirar novamente aos mesmos. Aos mais pobres, aos mais desfavorecidos, aos que vivem com reformas mínimas e à classe média. Que sufoca drasticamente. Fazer sempre o mesmo -mais austeridade- e sempre aos mesmos é inaceitável. Os que mais podem vão escapando às garras do ministro que não taxa as grandes fortunas e vai beneficiando os grandes empresários, que mesmo assim já as desvalorizaram, dizendo que de nada lhes serve se o consumo continuar a retrair. Frio e duro Passos Coelho deu esta notícia trágica à nação sem o mínimo de comoção. Como se não bastasse anunciou ainda que esta não seria a última vez que nos vêm ao bolso. Pediu que aguardassem os portugueses as cenas tristes dos próximos capítulos. Aos mais jovens manda-os emigrar. Aos professores também. Aos reformados encolher mais, e aos pobres condena à miséria permanente. E ao orgulho que temos no país que somos o que quer que façamos? A resposta saiu à rua no passado sábado numa dimensão nunca vista. Terá sido o rotundo não dos portugueses inaudível? Povo de brandos costumes, mas não de fraca têmpera os portugueses saberão reagir. Pelo país que amam e pela dignidade que ainda persiste.