O país pôs-nos esta semana a assistir a mais uma mão-cheia de episódios inqualificáveis.
Parecemos forçados a ser espectadores de uma espécie de “Grande Irmão” mais real que o programa de televisão, com protagonistas severamente ridículos e desconectados dos reais problemas de todos os portugueses.
Poder-se-á mesmo pensar que há, entre nós, uma “luta de galos” que leva cada qual a procurar o seu holofote e a posicionar-se, em palco, para debitar a sua deixa, enquanto uns quantos se debatem com problemas reais a que ninguém acode.
Só isso pode explicar todos os episódios a que assistimos difundidos por todos os canais de comunicação, replicados nas redes sociais e nas vozes dos comentadores de todas as televisões e rádios…
Cerca de 50 mil pessoas assinaram uma petição contra o abate do cão Zico, o pitt bull que matou uma criança de 18 meses.
A iniciativa da petição contra o abate do cão tem laivos de absurdo e grotesco. Não só pelo tema e por tudo o que ele compreende, como também pelo facto de ter juntado cerca de 50 mil pessoas com um objectivo: livrar o cão do abate.
Não há em Portugal mais nada para defender ou para protestar? A mim parecia-me que sim, mas, por via das dúvidas, fui ver as petições públicas, no site da internet.
Há muitas e para todos os gostos. Destaco estas pela sua importância fundamental: “Juntem duas almas gémeas” – (que seria de um país sem almas gémeas?), “Petição para proibir franjas no cabelo da Rita Laranjo”- (Uma Rita Laranjo sem franja faz perder o emprego a centenas de pessoas); “Sessão de autógrafos do Justin Bieber em Lisboa” – (fundamental, por certo).
Ainda se espantam com o desejo da Pepa? Eu não.
E qualquer dia vai haver uma petição para que a Pepa possa ter a sua mala channel preta "daquelas normais" e tal como o abate do Zico, a petição para a mala da Pepa irá ter mais assinaturas que uma petição, que também lá está no site e que pede a imediata demissão de Miguel Relvas do Governo. Tem 5973 assinaturas…
São prioridades que devem divertir e alegrar quem nos desgoverna na República. Só isso pode explicar que Pedro Passos Coelho tenha estado em Ponta Delgada, tenha falado, como falou, da Lei de Finanças Regionais, do Relatório do FMI e do Serviço Nacional de Saúde e tenha sido aplaudido por todo o congresso. Entusiasticamente.
Só essa grande euforia do Governo da República por ver que pode fazer o que quiser porque o Povo está entretido com o “circo do cão”, a “mala da Pepa” ou os desaires da "Casa dos Segredos" pode explicar que Pedro Passos Coelho, em Ponta Delgada, tenha dito que todos devemos cumprir a palavra que demos, que "o Governo não pode ser trapaceiro, nem dizer hoje uma coisa e amanhã outra". Tudo certo, sim senhor. Mas o Primeiro-Ministro de Portugal não é propriamente exemplo de cumprimento da palavra dada, pelo que ouvir isso, em directo na minha televisão, foi insultuoso!
Mas lá está: isso comparado com a Sessão de Autógrafos com Justin Bieber não é nada para este país…
Só falta agora mesmo é que o Papa Ratzinger confirme lá do Vaticano, via twitter, se Gaspar estava ou não no presépio, para as pessoas poderem ficar descansadas. Se não tiver estado, o Relatório do FMI não é a "Bíblia do Governo". Se tiver, o Primeiro-Ministro mentiu mais uma vez aos portugueses.
Mas o que é que isso interessa? A Associação Animal conseguiu o adiamento do abate do cão.
Que bom!