Já aqui dissemos que os tempos exigem enorme responsabilidade dos agentes do sistema político. Os políticos têm de ser um referencial de responsabilidade, de lucidez e de sintonização com os reais problemas das pessoas e têm, por isso, de estar concentrados no que realmente interessa e não dedicados a discussões estéreis e pouco relevantes que terão, com certeza, legitimidade e relativa importância para alguns mas que devem ser resolvidas no espaço próprio. Não sendo assim, serão mais contributos para a descredibilização da atividade política. Isto a propósito da recente polémica sobre uma exposição dos bustos de todos os Presidentes da República na Assembleia da República. Ao que parece, vários partidos da esquerda manifestaram-se contra a existência da exposição pelo facto de incluir os Presidentes do Estado Novo. Isso não teria nada de especial nem seria grande problema caso fosse debatido numa sala qualquer com quem trata destas questões. O problema é que o tema foi abordado e debatido insistentemente no plenário da Assembleia da República, em direto em todos os canais noticiosos do País. Num momento tão difícil, em que os políticos estão debaixo de fogo permanente pela incapacidade de responder corretamente às necessidades das populações e em que é imperativo que todos se concentrem no que realmente interessa, alguns representantes do povo português deram um péssimo contributo para a credibilização da atividade política. A política é fundamental. Os políticos são fundamentais. Mas todos devem estar à altura das responsabilidades que têm e do direito que o povo lhe emprestou de desempenhar um cargo público. A este propósito e sobre a impunidade e falta de lucidez de alguns políticos, recordo-me de um episódio, algures em 2009, pouco tempo depois de ter sido eleito deputado pela primeira vez. Disse, em aparte, reagindo a uma afirmação de um deputado do PSD Açores, “os açorianos vão gostar de saber que o senhor defende isso, devia dizer isso com o microfone ligado”. A resposta foi “mas você acha que os açorianos querem saber o que dizemos aqui”. Fiquei estarrecido. Com 26 anos, acabado de chegar ao Parlamento, casa da Autonomia, expoente máximo da minha atividade política, sou confrontado com esta afirmação de um proeminente parlamentar social-democrata. É para acabar com estas conceções, quer dos políticos que mostram estar fora de prazo, quer sobretudo dos cidadãos, que temos de estar concentrados no que realmente interessa e não em exposições de Bustos da velha senhora ou em qualquer outra coisa que acrescenta pouco ou que não acrescenta nada.