Costuma-se a dizer que “quando a esmola é muita o pobre desconfia” e é literalmente assim que os portugueses encaram o anúncio de Pedro Passos Coelho de “baixar os impostos ou de não os fazer subir” no próximo ano.
Seguindo uma lógica de anúncios de medidas já habitual - de antecipadamente mandar uma fuga de informação para os jornais com a boa nova – recebemos, desta vez, com agrado a notícia que os impostos finalmente não iriam subir no país e, se os portugueses se portassem bem, nomeadamente, não fugindo ao fisco, ainda poderiam descer mais um bocadinho retroativamente. Mais! A nova reforma do IRS iria beneficiar as famílias numerosas e quem tomasse conta de idosos…
De facto, após um conturbado Conselho de Ministros em que Paulo Portas foi classificado (humilhado!) publicamente, por Passos Coelho, como um irresponsável populista por querer baixar o IRS, tinha havido fumo branco e, aparentemente, os bolsos dos portugueses poderiam, ao fim destes anos de Troika, ter um merecido alívio.
Apesar de tudo, havia algo que fazia confusão no discurso político do Governo, pois não existindo nenhum poço de petróleo recentemente descoberto na costa portuguesa, estas medidas eram profundamente contraditórias com o objetivo de baixar o défice do Estado no próximo ano.
Percebemos então que o problema não estava nos “pobres portugueses” confusos e, ainda esperançosos nos resultados das brigas entre Portas e Pedro Passos Coelho. A culpa residia… Sim! Em José Sócrates! Culpado pela chegada da Troika a Portugal, pela situação da PT, pela unha encravada do meu vizinho Aníbal, pelo mau tempo em Lisboa e pelo facto, claro, de não ter conseguido que os portugueses tivessem um nível de conhecimento avançado da língua portuguesa que permitisse perceber o que o Governo da República quer dizer.
Quando a Ministra das Finanças afirma que o Governo “não sobe impostos mas agrava a carga fiscal” está a ser muito clara quanto aos objetivos do Governo.
Quando se percebe que a nova reforma de IRS, que segundo o Governo iria baixar impostos aos portugueses, afinal, “ataca os bolsos” de quem não tem filhos, constatamos que, de facto, somos todos, sobretudo os jornalistas, ignorantes no português e profundamente desatentos, pois o Primeiro-Ministro já tinha falado de uma tal “cláusula de salvaguarda” que permite – imagine-se! - a cada contribuinte “instruir um requerimento às Finanças no sentido de solicitar uma avaliação ao regime de IRS – o novo ou antigo - que mais o favorece. Estamos mesmo a ver milhares de contribuintes, únicos titulares – idosos, pensionistas e jovens - instruírem milhares de processos junto das finanças, obtendo, deslumbrados e desvanecidos, a respetiva resposta em tempo útil.
Aliás, a ignorância “patética” de que padecemos não nos permite perceber o milagre da “multiplicação das rosas” que o Primeiro-Ministro apresentou nos Açores.
Passos Coelho conseguiu mesmo apresentar uma descida de impostos nos Açores e poupar nas contas da República ao mesmo tempo.
Estranho!? Não!
Esteja descansado. Não acabamos este artigo sem culpar José Sócrates por isto também…
Durante a visita aos Açores, enquanto os seus assessores se entretinham publicamente a comparar simples trabalhadores açorianos a gado, Pedro Passos Coelho anunciou que iria repor o diferencial fiscal nos Açores face ao Continente de 20% para 30%.
Mas se baixa impostos, como é que poupa!?
É simples! Quando, em 2013, Passos Coelho subiu os impostos nos Açores, contra a vontade do Governo Regional e dos açorianos, cortou nas transferências para os Açores, no montante exato do aumento de receitas fiscais devido a esta medida.
”Ou seja, quando o Governo da República aumentou os impostos nos Açores, fê-lo para poupar nas transferências para a Região.”
Quando, presentemente, pretende repor o diferencial fiscal nos 30%, curiosamente, esquece-se de nos devolver o valor que nos retirou nas transferências. Na prática, da mesma forma que aumentou os impostos então, agora pretende diminuir os impostos à custa dos Açores.
Mas se perguntarem ao PSD/Açores o que dizer de tudo isto, a resposta não pode ser diferente da esperada: Agradecemos a oportunidade dada por Passo Coelho para pagarmos menos impostos e se há problemas na reposição desta medida estes devem-se a José Sócrates quando assinou o memorando.
Estranho!? Não!
Afinal o PSD dos Açores é igual ao de lá de fora…