“Espero que não aconteça nada”, foram estas as palavras do Chefe de Estado-Maior da Força Aérea (FAP), a propósito da insuficiência de meios para as missões de busca e salvamento e evacuações médicas de urgência.
Uma situação que todos reconhecem ter ultrapassado os limites e que tem vindo a ser denunciada pelas forças políticas regionais. Infelizmente, o tempo veio dar razão quando, no mês de junho do corrente ano, um cidadão acabou por falecer na ilha de São Jorge, por não haver disponibilidade de transporte.
No final do mês de outubro, a Assembleia Legislativa Regional aprovou por unanimidade um Projeto de Resolução a enviar ao Governo da República, para que este forneça os meios adequados às esquadras 751-“Pumas” e 502 – “Elefantes” estacionadas na Base das Lajes.
Por parte da FAP, o seu Chefe de Estado-Maior, por mais do que uma vez se referiu a essa escassez de meios, tanto na Assembleia da República perante a Comissão de Defesa, como recentemente numa cerimónia pública na Base das Lajes. De acordo com as suas palavras, é “já notória uma redução da capacidade de prontidão e um consequente aumento do risco operacional”.
Por seu turno, o presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas confirmou a situação de insuficiência dos meios humanos, denunciando ao mesmo tempo a má gestão do pessoal, por haver tripulações deslocadas nos Açores, mas inativas porque lhes falta o piloto-comandante. Conclui que se cria uma falsa sensação de segurança, quando o grau de prontidão baixou para metade.
De igual modo, se pronunciou o Presidente do Governo dos Açores não só lamentando a situação que se degradou a partir dos finais de 2013, como também contestou a leviandade com que o Ministro da Defesa interpreta o acordo feito entre a FAP e o Governo Regional.
O senhor Ministro, ao afirmar que o transporte urgente de doentes, sob a designação de evacuações sanitárias médicas, não é uma missão da FAP, revela uma grande falta de conhecimento da realidade insular, mas também falta de sensibilidade para este grave problema humano de quem vive isolado no meio de ilhas, quando valoriza mais os gastos do que a vida de pessoas. Esta situação é tanto mais estranha quanto no Ministério da Defesa há titulares que estão por dentro desta realidade.
Como se constata, só o Governo da República vive à margem do consenso generalizado sobre a carência de meios materiais e humanos para as ações referidas. De forma alguma, está posto em causa o desempenho da FAP que se esforça por resolver os casos de emergência, com toda a dedicação e denodo. O que causa perplexidade é a atitude displicente do Governo e a instrumentalização política com que procura abordar o tema.
Que o governo de Passos Coelho anda à deriva, sem piloto nem tripulação, já todos os portugueses deram por isso; só pedimos que não recambie para as ilhas o vírus do seu desnorte e reponha os meios que existiam até ao ano passado para que não se percam mais vidas.