Opinião

Bom senso

Bom senso é uma grande virtude. Bom senso para medir as palavras. Bom senso para avaliar corretamente o impacto dessas palavras. Bom senso para resistir à tentação da crítica fácil, da crítica conveniente mas inconsequente. Da critica que se preocupa mais com a circunstância do que com a substância. Da crítica que esquece a história, por má-fé ou ignorância. Bom senso para não ir pelo caminho mais fácil. Pelo caminho em que sabemos que teremos aceitação e apoio imediato, por força dos estados de alma dominantes, mas que se revelará sinuoso e sem saída no médio prazo. Esse bom senso é ainda mais relevante nos momentos difíceis. Nos momentos em que pode ser apetecível seguir o tal caminho mais fácil, mas tal opção pode ter consequências nefastas a vários níveis. Em boa verdade, esse bom senso tem sido determinante em momentos difíceis da história dos Açores. Momentos em que as dificuldades de determinadas ilhas provocaram ondas de solidariedade sem reservas. Foi assim na reconstrução do sismo de 80, foi assim na catástrofe da Ribeira Quente ou foi assim na reconstrução do sismo de 1998 no Faial, só para dar alguns exemplos. Momentos em que todas as Ilhas, todos os Açorianos, se mobilizaram para ajudar e apoiar quem mais precisava. Temos, agora, também um momento muito difícil na Ilha Terceira, decorrente da anunciada redução de contingente norte-americano da Base das Lajes, com impactos económicos e sociais brutais. Por exemplo com perda de 500 postos de trabalho diretos e de cerca de 1450 indiretos. Neste cenário, o Governo dos Açores, e bem, criou um Plano de Revitalização Económica da Ilha Terceira para fazer face a esta situação, criando um conjunto de medidas excecionais, de responsabilidade tripartida entre o Governo dos Açores, o Governo da República e o Governo dos Estados Unidos. Estranhamente, ouvimos algumas vozes, a insurgirem-se contra tal plano, porque discrimina positivamente em demasia a Ilha afetada por tal problema. O mínimo que poderá ser dito destas vozes é que lhes faltou o tal bom senso. Faltou bom senso porque se esquecem que a Base das Lajes deu grandes benefícios financeiros e geopolíticos ao País e aos Açores. Faltou bom senso porque se esquecem que a receita gerada pela atividade económica garantida pela existência desta Base não é da Ilha Terceira, é dos Açores. Faltou bom senso porque quando temos de garantir junto das autoridades nacionais e norte-americanas, que acautelem a minimização dos impactos desta redução apoiando o Plano de Revitalização, manifestações públicas de discordância e de divisões internas são um ótimo argumento para que quem tem de assumir responsabilidades nesta matéria, não o faça.