A vitória do Syriza nas eleições gregas teve o condão de devolver a política ao centro do debate europeu que, nos últimos anos, esteve subjugado à imposição de um caminho único e inevitável. Os últimos anos da Comissão Barroso foram, porventura, o espelho de uma casta política europeia que se esqueceu da matriz fundacional do projeto da União Europeia. Barroso, Merkel, Sarkozy e, entre nós, Passos Coelho são exemplos de como a Europa – outrora símbolo de valores universais – se deixou arrastar nas ruas de um puritanismo ideológico, pejado de um moralismo pretensioso que divide o mundo entre aqueles que merecem mandar e os outros que só devem obedecer.
Quando Jean Claude Junker admitiu ser necessário rever a forma de agir das instituições europeias, concluindo que a troika pecou contra a dignidade de gregos, portugueses e irlandeses, mais não fez do que admitir o colossal erro político que a Comissão Europeia, liderada por Durão Barroso, e o Eurogrupo, na ocasião liderado pelo próprio Junker, cometeram. É, por isso, que a reação radical do Governo português, quer à eleição do novo governo grego quer ao recente ato de contrição de Junker, é contrário ao espírito original do projeto europeu e contrária, também, aos interesses de Portugal.
Passos Coelho - que foi o autor da tese de que Portugal devia ir além da troika – é hoje um Primeiro-Ministro acossado pela realidade e ultrapassado pelas circunstâncias. O líder do PSD não entende que a eleição - democrática – do novo governo grego constitui uma oportunidade para introduzir mudanças absolutamente necessárias e indispensáveis na ordem europeia. Não se trata, sequer, de perdoar a dívida grega. Trata-se, no fundo, de ler o mundo em que vivemos, de aceitar a realidade e de compreender as lições do passado recente. A Europa de que nos orgulhamos de pertencer não é um clube privado de uma elite política que impõe a sua vontade e o seu modo de vida aos países mais fracos. É absolutamente espantoso ver o governo português do lado errado da História. Quando Passos Coelho diz que “a dignidade dos portugueses não foi beliscada”, comprova aquilo que infelizmente já todos sabíamos: o atual Governo de Portugal não defende os interesses dos portugueses na Europa, mas sim, impõe a agenda conservadora e politicamente arrogante de Berlim a Portugal. Portugal nos últimos anos não perdeu só a sua soberania. Com Passos Coelho perdemos também respeito, amor-próprio e parte da nossa identidade comum. Depois disso, realmente é normal que um dirigente político estrangeiro tenha mais consideração pela nossa dignidade, como povo, do que o ainda Primeiro-Ministro de Portugal.
Baralhar e voltar a dar
É absolutamente incrível verificar que a Europa está hoje, 2015, mais ou menos no mesmo ponto em que se encontrava em 2011: mergulhada numa grave crise política e institucional. É por isso que ver a teimosia obstinada de Merkel – secundada vergonhosamente por Passos Coelho – faz lembrar a velha máxima de Einstein sobre a insanidade: “continuar a fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.”