A entrevista que o Dr. Mota Amaral concedeu a este jornal na passada terça-feira foi uma iniciativa evitável que confirma o que já se sabia: a guerra dilacerante que varre as bases do PSD-A a propósito da escolha do cabeça de lista do partido às próximas eleições legislativas nacionais. Num registo sereno o Dr. Mota Amaral prova que o PSD-A não tem liderança e se descaracterizou por completo, ao ponto de desrespeitar a vontade dos seus militantes nos Açores e de se vergar perante as exigências impostas por Passos Coelho. Mesmo face ao evidente erro que Duarte Freitas cometeu em não afrontar Passos Coelho e resolver este delicado assunto no último congresso do PSD-A, exigia-se ao menos que preservasse a, indiscutivelmente, maior referência política do PSD-Açores. Em vez disso, Freitas deixou o assunto arrastar-se penosamente e permitiu que a discussão saltasse do interior do partido para as páginas dos jornais regionais. Duarte Freitas trata o Dr. Mota Amaral como uma estátua viva e alinhou na tendência populista de desvalorizar a experiência e as provas dadas. Apesar de votações na Assembleia da República que prejudicaram os Açores e não salvaguardaram o interesse nacional, a verdade é que o Dr. Mota Amaral ergueu-se algumas vezes contra a sua bancada – ao ponto de ser sujeito a um processo disciplinar - e adquiriu capital político relevante como um crítico da orientação seguida por Passos Coelho. Tudo indica que numa reunião que decorrerá amanhã, o PSD dará um passo no sentido de afastar o Dr. Mota Amaral de uma esperada e merecida recandidatura em benefício de Berta Cabral, uma candidata totalmente colada à governação desastrosa de Passos Coelho mas apoiada por este. Duarte Freitas pensa que a obediência à vontade de Passos Coelho lhe trará proveitos. Engana-se. Está apenas a seguir o seu instinto de sobrevivência. A prazo, serão os próprios militantes do PSD-Açores a expulsá-lo da chefia do partido pelo delito de obediência a Lisboa. E para isso, certamente que contarão com uma preciosa ajuda.