Opinião

O desencantamento

De onde vem esta tão falada desilusão dos jovens com a política? Mais que nunca, impõe-se refletir sobre a questão. Os jovens são, também, barómetro do estado das coisas, da visão que têm do futuro. Podíamos pensar que, a julgar por aquilo que diz a maioria, “não se interessam por política” e, por conseguinte, não se encontram informados o suficiente para poderem formar juízos de valor sobre a boa ou má aplicação de políticas que os afetam, mas é falacioso esse raciocínio e nunca será demais questionarmo-nos o porquê deste desencantamento. Muitos afirmam que o mesmo advém dos políticos: que são todos iguais, que prometem mundos e fundos. É o mesmo discurso que já vem de outras gerações e que se transmite por herança de protestos e vivências próprias, relacionadas com o eterno flagelo do desemprego jovem e da falta de perspetivas de futuro. Acredito, no entanto, que na própria crítica habitual do descontentamento para com a postura dos políticos encontramos um desejo de mudança que é, de per si, uma posição política. No seu desinteresse, os jovens fazem política, ainda que passivamente. Urge transformar esta resignação em política ativa. Os jovens podem e devem ter uma postura reivindicativa forte e informada, contribuindo para a construção das políticas que também eles desejam para si e para a alteração do status quo. A discussão de propostas e de ideias, o fomento de fóruns de discussão jovem, são também fontes de mudança, de propositura e de construção. A todos cabe o contributo para a construção de uma sociedade melhor. O descontentamento com o nível do desemprego jovem é geral –dos jovens aos políticos. Para que consigamos mudança, devemos todos adotar uma postura de ação. É um esforço conjunto. É lógico que aos políticos exige-se seriedade. Em nada ajudam as promessas irreais que muitas vezes, de tão descabidas que são, convidam ao revirar de olhos e ao descrédito de quem as propõe (sim, lembro-me de alguém que recentemente prometia tirar 40 mil açorianos da pobreza –sem se perceber de onde vinham esses números nem como é que o mesmo “iluminado” se propunha a concretizar o que anunciou). O político errático que promete ao desbarato, mente, alarma e ilude as pessoas não deverá, claramente, ser merecedor da sua confiança. Também não ajuda, certamente, convidar os jovens a abandonar o seu país, demonstrando completa perda de fé no seu valor e nas suas potencialidades. No entanto, é errado julgar-se que os políticos são todos “farinha do mesmo saco”. Há bons e maus políticos. Há bons e maus trabalhadores em todas as profissões. No entanto, a exposição pública implica que, muitas vezes, se induza as pessoas em erro, estando os jovens muito suscetíveis ao tipo de julgamento que daquela decorre, numa sociedade em que a informação corre à velocidade da luz e onde um tweet ou um post nas redes sociais é tomado como real, sem que haja qualquer questionamento da verdade. Via outro dia uma estatística que dizia que 90% dos jovens não gostam de política, em grande parte, pela falta de credibilidade dos políticos. Acredito que, se a estatística fosse diferente, a questão da credibilidade dos políticos seria, ela também, invertida. Mais atenção e mais sensibilidade aos assuntos políticos poderiam fazer os jovens perceber a diferença entre quem realmente é credível e quem não o é. Acredito também que todos os jovens têm em si o desejo de fazer política e de fazerem ouvir as suas opiniões, mesmo naquilo que aparenta ser um virar de costas constante. É preciso que também a classe política continue a fomentar a participação e o envolvimento dos jovens na vida política. É um trabalho incessante e que de todos merece o contributo.•