Opinião

A parecença gemelar

Berta Cabral disse, no passado fim de semana, que eleger um governo liderado por Passos Coelho era a escolha certa para os jovens dos Açores. Começo com sérias dúvidas sobre se a cabeça-de-lista pelo PSD/A às próximas eleições legislativas viveu em Portugal nos últimos quatro anos ou se, como ela própria disse um dia, “não nasceu ontem para a política”. De outra forma não se consegue perceber a sua afirmação. Na chamada “universidade de Verão” da JSD Açores, Berta Cabral veio cantar loas a Passos Coelho, decerto como agradecimento pelo “jeito” que o ainda Primeiro-Ministro deu ao afastar o histórico Mota Amaral das listas do PSD às eleições para a Assembleia da Republica de modo a colocá-la nesse posto. Aliás, toda a campanha do PSD Açores se tem centrado à volta do elogio às “qualidades imensas” de Passos, não tivesse ele também pretensões a salvador da pátria. Os Açores tomaram segundo lugar no discurso do PSD/A nesta campanha eleitoral. Veio Berta, então, perante uma plateia de expectantes jovens sociais-democratas, dizer que só Passos e um governo liderado pelo PSD lhes dará perspetivas de criação de riqueza e de emprego. Esqueceu-se de complementar com “à custa de cortes nas pensões dos reformados e da precariedade laboral”. Esqueceu-se de dizer que assistimos, durante a governação de Passos Coelho, a um verdadeiro êxodo de portugueses para o estrangeiro, verificando-se um número de novos emigrantes que já ultrapassa os 50 mil, muitos deles jovens à procura de um futuro que o governo do PSD na República falhou em garantir. E vem agora Berta assegurar que só Passos lhes garante emprego? Só entre janeiro e maio deste ano, foram bem mais de 800 os enfermeiros que solicitaram à Ordem declarações para que pudessem exercer no estrangeiro, a esmagadora maioria deles jovens licenciados. Mais do que incoerência, as afirmações de Berta Cabral indiciam uma descarada falta de respeito por todos os jovens que saíram do seu país, que abandonaram as suas famílias em busca de algo. E nem de um algo melhor. Era mesmo de algo, já que nem isso Passos Coelho lhes conseguiu oferecer. Foi à custa desta redução da população, da partida dos nossos jovens e dos cortes nas pensões e nos salários que o PSD conseguiu essa pseudo-recuperação do país “da situação de falência em que se encontrava e abrir um novo ciclo de crescimento para a economia do país”, como se gabou Berta naquele evento. “Um novo ciclo de crescimento” que se vai novamente fazer à custa das pensões dos reformados, com o já anunciado corte de 600 milhões de euros nas mesmas. Que se vai continuar a fazer com o empurrar os nossos para fora do país. Esquecem-se que sem os nossos jovens o país não andará para a frente. Que nada progride sem juventude e renovação (mas não “renovação” na aceção do PSD, que essa de renovação tem muito pouco). Juntando-se a “recomendação” de Berta para que os jovens votem em Passos Coelho à apropriação desesperada e imprópria da autoria das soluções encontradas nas questões da abertura do espaço aéreo às companhias low-cost e da redução dos impostos na Região, obtemos a resposta às questões que a própria candidata fez há uns tempos atrás: sim, Berta Cabral é parecida com Passos Coelho. Uma parecença gemelar.E, para além disso, tem uma lata do tamanho do Mundo.