Opinião

Pôr a nu

A campanha eleitoral, mesmo antes de começar, está transformada numa diversão. Depois da trapalhada dos cartazes do PS e do Portugal pode mais da coligação eis que a seminudez de Joana Amaral Dias na capa duma revista incendiou o circo. As imagens podem ser um poderoso meio de comunicação, que tanto exaltam como enterram. Num país atrasadinho um corpinho desnudado é sempre um estímulo poderoso. A cabeça de lista do AGIR mostrou a barriga e foi um ai nos acuda. As redes sociais entupiram com os prós e os contra da nudez. Os mais sisudos comentadores esqueceram a dívida pública, trocaram a falência do serviço nacional de saúde pelo significado dos lábios entreabertos da candidata, e enterraram as críticas à coligação para se dedicarem a decifrar a sua mensagem subliminar. O país bipolar entre o elogio à coragem e a crítica moralista. Entre o olha que fixe uma candidata grávida e meia nua, e o olha que parvoíce uma candidata meia nua e grávida! A extrema-esquerda revelou-se conservadora. A mulher é pública. É política. E é sua. Joana já explicou que o fez em nome da candura, pelas mulheres, e para explicar aos imbecis dos portugueses que os políticos também tem vida íntima, e engravidam, e tem gravidezes de risco, e vestem-se e despem-se todos os dias, e mudam de partidos muitas vezes e, apesar de berrarem não nos vendemos, por vezes, vendem-se mesmo. Mas ninguém lhe ligou muito, os boçais dos portugueses veem uma mulher seminua e salivam. Limitando-se a expor os preconceitos do costume. A mim a imagem parece-me de um recato até pouco usual na figura, sobretudo quando comparada com algumas das suas posições públicas, essas sim verdadeiramente obscenas. Esperemos que a moda não pegue. É que não me apetece mesmo nada ver o Passos Coelho enfiado num antigo vestidinho das “Doce” ou o Costa a cobrir pudicamente o mamilo com a mão esquerda.