Opinião

A vitória antecipada

Hoje as sondagens apontam para uma vitória de Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais à primeira volta. O professor popularizado pela televisão portuguesa, que lhe deu amplo palco durante anos, capta votos num largo espetro político desde a direita, que seria o seu eleitorado mais natural, até à esquerda, devido sobretudo ao Bloco de Esquerda.Esta simpatia generalizada e maioritária ao que parece pela candidatura do professor ficou desde ontem seriamente ameaçada pelo apoio anunciado pelo PSD e pelo CDS. Os partidos da antiga coligação anunciaram o seu apoio à candidatura, e com este singelo gesto, não lhe prestam um apoio de que necessite, mas, podem, pelo contrário, retirar-lhe uma percentagem dos previsíveis votos da esquerda. Marcelo capta a simpatia de muitos portugueses que não apreciaram a atuação da anterior coligação entre PSD e PP. É por isso que este apoio é mais um presente envenenado, uma espécie de abraço sufocante que pode ameaçar a vitória à primeira volta. Marcelo fez uma operação de charme considerável de aproximação à esquerda nos últimos meses, que começou com a ida à festa do Avante, e passou pelo distanciamento crítico da atuação do atual Presidente da República. Acontece que os acontecimentos recentes extremaram a animosidade entre a direita e a esquerda portuguesas. O centrão eclipsou-se e, neste enquadramento,o apoio da direita só serve a perda de votos. Mesmo assim dificilmentehaverá segunda volta. A pulverização dos candidatos à esquerda, a decisão de não indicação de voto por parte do PS, a somar à candidatura independente de Sampaio da Nóvoa ditam as premissas para este desfecho. No sistema constitucional português um presidente da República é muito mais do que um mero corta-fitas como se percebeu pelos acontecimentos mais recentes. Razão bastante para obrigar a uma escolha ponderada quando a tivermos que fazer.