Opinião

Momentos de uma noite eleitoral

1 – Cobertura televisiva – A noite eleitoral foi esmiuçada à exaustão por todos os canais nacionais. A ânsia de ser o primeiro a noticiar uma ou outra intervenção fez com que a noite fosse marcada por alguns episódios, uns irritantes – como o constante cortar da palavra aos comentadores convidados nos variados canais em virtude das intervenções dos candidatos – outros “acidentais”,tais como a repetição da entrada de Maria de Belém na sua sede de candidatura. O que saltou mesmo à vista foi a excitação de um apresentador em particular – José Rodrigues dos Santos – que relatou a noite eleitoral com um entusiasmo sem paralelo. Quem disse que as presidenciais não suscitavam paixões, enganou-se. Ao menos, e ao que parece, neste caso. 2 – Abstenção –A velocidade a que “saíam” os resultados fazia claramente antever que a percentagem de abstencionistas iria ser significativa. E assim se confirmou. Os quase 50% de abstenção nestas eleições demonstram um país desligado da sua vida política, sem identificação com os candidatos ou com os seus “programas”. Os variados apelos, sob as mais diversas formas, ao exercício do voto, mostraram-se incapazes de mover consciências e, consequentemente, votantes. 3 – Resultados – Poucas surpresas. Marcelo venceu, como desenharam todas as projeções. Sampaio da Nóvoa, ainda que numa grande e mui digna demonstração de dedicação à causa pública, não logrou resultado que obrigasse a uma segunda volta. Marisa Matias, um resultado de tomar nota. Maria de Belém, claramente castigada pelo eleitorado, por uma diversidade de motivos e decisões bem conhecidos de todos e que apresentaram à candidata uma pesada fatura. Edgar Silva, sem grande expressão. Vitorino Silva, com um resultado interessante e sintomático, pôs muita gente a coçar a cabeça. 4 – Discursos – O de Jerónimo de Sousa ficará na memória, pelos piores motivos. O tom sarcástico e - atrevo-me a dizer - machista com que o líder do PCP aludiu à candidatura de Marisa Matias não foi minimamente correto. Esperava-se mais dignidade. Vitorino Silva irá ser lembrado como aquele cujo discurso nem foi transmitido pelas televisões – tão ocupadas que estavam a “perseguir” Marcelo na sua viatura e a fazer diretos do campus universitário de Lisboa sem que nada houvesse ainda a reportar. A falta de equidade foi clara. E, finalmente, o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa. Sei do afeto que liga o novo Presidente da República à Faculdade de Direito de Lisboa. No entanto, não creio que aquele fosse o local adequado para receber um candidato numa noite eleitoral. Li algures que “a Faculdade de Direito de Lisboa é a Casa de Marcelo Rebelo de Sousa”. É. Mas não só dele. É de todos os que por lá passaram. É uma Casa de Justiça e de Liberdade, não uma sala de espetáculos. Por esse motivo, não se deveria prestar ao papel que desempenhou na passada noite de 24 de janeiro. Enviou uma mensagem totalmente tendenciosa que não deve ser rosto de nenhuma instituição pública de ensino. Lamento que assim tenha sido. 5 – Cobertura noticiosa internacional – Portugal foi notícia um pouco por todo o Mundo, em virtude destas eleições. Contudo, devemos ser dos poucos países que fazem notícia “cá dentro”pelo facto de sermos notícia “lá fora”. E isso diz muito de Portugal. Depois de tudo, resta-me apenas esperar e fazer votos para que o novo Presidente da República seja um rosto de Justiça e Equilíbrio na sua atuação e que, acima de tudo, no nosso caso, respeite os Açorianos e a nossa Autonomia. Cá estaremos, vigilantes.