I. Passos Coelho disfarçou melhor, Assunção Cristas nem fez grande esforço, mas tanto um como o outro vieram aos Açores dizer aos seus correligionários regionais que essa coisa da Autonomia está muito bem como está.
A candidata a Presidente do CDS-PP foi a Angra do Heroísmo afirmar, ao lado de Artur Lima, numa sessão para dirigentes e simpatizantes do partido, que não sente “muito que seja um problema para o desenvolvimento dos Açores a questão autonómica”. E, para que não subsistissem dúvidas interpretativas, acrescentou: “A última revisão do Estatuto Político Administrativo tem escassos anos e tem um conjunto de instrumentos que são já usados e que podem até, eventualmente, ser melhor utilizados”. Que é como quem diz, brinquem lá com os legos que têm por mais uns anos que eu não dou uns novos.
Passos Coelho, por sua vez, mais treinado na arte de dizer devagarinho, procurou deixar a Autonomia de fora da agenda da sua deslocação partidária aos Açores, preferindo acentuar o que diz ter feito, enquanto Primeiro-Ministro, em prol do desenvolvimento da Região. Mas o gato foi pondo o rabo de fora, aqui e ali, até que não conseguiu mesmo escondê-lo. A propósito da não reposição das transferências a título de solidariedade, ao abrigo da Lei das Finanças Regionais, em entrevista a este jornal, começou por afirmar que estava “inserida no esforço global que todo o país teve de fazer para poder reduzir o défice público”. Depois, sobre a gestão partilhada do mar dos Açores, referiu que o licenciamento das atividades e a exploração dos recursos “não podem caber às regiões autónomas – tem é de haver uma complementaridade [com a República] nessa matéria”. E, por fim, quando questionado sobre o que pretende fazer para defender os interesses dos Açorianos no Parlamento, e apesar de se afirmar como “um grande defensor das Autonomias Regionais”, não conseguiu evitar um escancarado “dentro do que legalmente já está consagrado na Constituição, no Estatuto Político-Administrativo, na Lei das Finanças Regionais, devemos aplicar-nos a tirar o maior partido possível daquilo que já existe”. Ou seja, a única diferença em relação a Assunção Cristas foi ter gasto muito mais linhas de jornal para dizer exatamente o mesmo: aproveitem os carrinhos que têm e vão brincando com eles porque, no que depender aqui do tio de Lisboa, não vão ter uns novos tão cedo.
II. O discurso centralista tem vários matizes e, ao contrário da virtude, está muito bem distribuído por todo o espetro político nacional. Porém, a cada circunstância e em cada momento da história, é preciso verificar em concreto que tipo de pensamento sobre a Autonomia domina nas lideranças dos vários partidos, para sabermos o que podemos esperar de cada um deles. E, nesta fase da nossa vivência coletiva, a oito meses das eleições Regionais, tanto o PSD como o CDS irão eleger, com apoio inequívoco das respetivas estruturas regionais, líderes com um entendimento claramente centralista das autonomias regionais.
Tanto Cristas quanto Passos vieram à Região espalhar uma mensagem conservadora e paternalista. Quiseram ensinar aos Açorianos a darem valor ao que têm e a aproveitarem melhor as benesses que Lisboa foi concedendo ao longo dos anos. Por se acharem mais habilitados do que nós para pensarem o nosso próprio futuro, ainda nos dispensaram uns conselhos sobre como desenvolver a economia regional.
Visitas de Lisboa, daquelas acompanhadas de sobranceria, que sabem bem quando partem. Em low-cost. A resposta, felizmente e por enquanto, ainda depende de nós.