O fim de um regime de quotas para produção de leite na Europa, a expectável desvalorização do preço do leite pago ao produtor com o problema do custo dos fatores de produção sempre presente, as incontornáveis características arquipelágicas que temos e que condicionam o escoamento, o embargo ao mercado russo ou a retração em economias chamadas emergentes com grande peso no consumo, são uma conjugação de fatores que adensam os problemas no setor leiteiro açoriano.
A isto acresce a política empresarial e comercial de alguma indústria que, associada à existência de monopólio na transformação de leite, não valoriza como devia a relação com os produtores nem a qualidade do leite recolhido, como é o caso da situação que se vive na Ilha Terceira.
Durante vários anos os produtores fizeram a sua parte de forma exemplar. Prepararam-se, modernizaram-se, aumentaram consideravelmente a qualidade do leite produzido e estiveram sempre prontos para responder positivamente às exigências da União Europeia.
Por isso, os produtores são os maiores prejudicados pela crise atual e os menos responsáveis por ela.
É, assim, fundamental que as autoridades nacionais e comunitárias tenham em conta as nossas especificidades e o peso relevante que o leite açoriano tem no mercado nacional. Recorde-se que produzimos mais de 30% da produção nacional.
Esta não é uma questão circunscrita aos Açores. Tem grande relevo nacional e europeu e deve ser abordada dessa forma, porque a qualidade da nossa produção leiteira e os produtos daí derivados acrescentam muito à promoção e valorização do nosso País neste setor.
Hoje, o consumidor valoriza pressupostos que entroncam perfeitamente nos conceitos de qualidade e de sustentabilidade ambiental associados à produção e transformação de leite dos Açores.
Um setor leiteiro açoriano forte será sempre um contributo muito relevante para um País que se quer afirmar nos mercados externos com produtos de qualidade.
Ou seja, os produtores saberão continuar a fazer bem a sua parte.
O problema reside noutro patamar.
Na capacidade e vontade da indústria em diversificar e criar valor acrescentado em produtos que mais ninguém tem, associados a uma marca de qualidade sustentável como a Marca Açores.
Na capacidade de encontrar novos mercados e garantir o escoamento dos produtos que aqui se produzem.
Na capacidade de regulamentar a atividade produtiva e a sua qualidade, protegendo os mais pequenos.
Só assim será possível ultrapassar a conjuntura atual e reafirmar a importância de um setor fundamental para a economia dos Açores.
Isso só poderá ser feito em conjunto, por todos os intervenientes, com boa vontade e empenho.
Em boa hora, o Presidente do Governo sentou todos os intervenientes na fileira do leite à mesma mesa, abordando o problema, mas sobretudo definindo soluções.
É este o caminho. Porque o momento assim exige.
Para ultrapassar uma crise que assola todos, mas que só poderá ser vencida com todos a puxar para o mesmo lado.
Não sendo assim, o futuro do setor estará irremediavelmente comprometido