Sempre considerei que há qualquer coisa que, potencialmente, todos temos em comum, por muito diferentes que pareçamos ser. Somos, obviamente, todos seres humanos e não estou a querer aludir à referência natural. Refiro-me à esfera subjetiva. Por muito que “o outro” seja mais ou menos falador, informado, comedor, bebedor, educado, aculturado, estiloso, eloquente, famoso, à esquerda ou direita, rico ou pobre, a nossa referência ética oferece-nos um espaço de intimidade onde essas aparentes diferenças se eclipsam e nos reduzimos à nossa essência. Este é o espaço onde, inevitável e derradeiramente, nos encontramos e reconhecemos.
E se é aqui que se expressa a nossa essência, é também aqui que se evidenciam as nossas reais diferenças. Sob pena de ser acusado de maniqueísmo, mas apenas para melhor demonstrar o argumento, digo que neste espaço da referência ética, onde nos definimos pela postura individual que escolhemos, somos dogmáticos ou críticos, tolerantes ou inflexíveis, egoístas ou altruístas, verdadeiros ou mentirosos, etc. e etc. Enfim, para dizer, que isto sim é o que nos define, separa ou aproxima, muito mais do que as outras aparentes diferenças que são absolutamente mudas em relação ao tema.
A referência ética é qualquer coisa que trazemos sempre connosco, cujas bases se constroem a partir da nossa vida privada e que transportamos para a sua vertente pública. Os seus parâmetros, por exemplo, de verdade e mentira, mantêm-se os mesmos. Pelo menos os meus. Durante a minha vida profissional, enquanto investigador e, agora, como responsável político, procurei pautar-me sempre pela verdade. Não defendo menos do que a verdade, não distorcendo ou inventando factos na informação para aqueles que me elegeram e que, também assim, pretendo honrar.
Atravessamos momentos difíceis no setor leiteiro nos Açores e é também da minha responsabilidade política recorrer aos meios de que disponho para levar esta realidade até à União Europeia. Tenho-me empenhado em fazê-lo. O mesmo, têm feito os meus colegas eurodeputados de outros partidos, bem como o Secretário Regional da Agricultura e Ambiente e o Ministro da Agricultura. E o mesmo fizeram, no passado, anteriores Ministros da Agricultura do PSD e do PS, quando, em momentos chave da reforma da Política Agrícola Comum, nomeadamente em 2003 e em 2008, manifestaram e registaram as suas preocupações relativamente às suas consequências sobre o setor leiteiro, nomeadamente nos Açores. Também o atual Ministro Capoulas Santos, enquanto eurodeputado, perdeu quando se bateu pela manutenção das quotas leiteiras. O que se passou? Defraudaram os que os elegeram, não fazendo o seu trabalho? Não. Perderam, mas não sem esforço, para outras maiorias. Maiorias estas, inspiradas e conseguidas sob iniciativa da agenda agrícola política da Comissão Europeia, liderada por países com interesses específicos na desregulamentação do mercado do leite e pela ideologia política mais neoliberal da Europa. Quem diz o contrário, ou não sabe ou está a mentir e tem a ética avariada.