A Educação não encaixa na métrica da política contemporânea. A velocidade a que se exigem resultados e a tirania do ciclo mediático não se compadecem com o desenho e a implementação de políticas de longo alcance. De um ano para o outro medem-se – e com que critérios?! – resultados escolares, de dois em dois anos exigem-se alterações curriculares, de três em três reclama-se por uma revisão profunda do sistema de colocação de docentes, e por aí em diante, num interminável novelo de propostas, soluções e contrapropostas. A nível nacional, por exemplo, na última década houve mais reformas do que anos letivos, sem que existisse a mínima hipótese, tal o frenesim do debate político, de os partidos pararem para pensar.
É por isso que qualquer promessa política de reforma milagrosa do setor que não passe por um debate alargado e por um consenso sólido entre as maiores forças políticas não passa de alquimia (que, no caso, serve perfeitamente de sinónimo de demagogia). Podem chamar-lhe o que quiserem – Escola de Futuro, como faz o PSD, ou outra coisa qualquer –, podem gritar “prioridade absoluta”, mas, se o fizerem contra o que está só para poderem vincar diferenças e, com isso, suspirar por um punhado de votos, na prática estão apenas a instrumentalizar politicamente o setor.
II. E isso nota-se. E bem. Veja-se, por exemplo, o tal programa “Escola de Futuro” que Duarte Freitas anda a publicitar de escola em escola, rodeado de um séquito de jovens de t-shirt propagandística e bandeirinha em riste.
É só diagnóstico estatístico e um imenso nada de terapêutica. Tal como já tinha acontecido com o combate à pobreza, que era, se bem se lembra o meu caro leitor, a prioridade Primavera-Verão 2015 do PSD Açores, também no caso da Educação, erigida em “esta-agora-é-que-é-mesmo-prioridade-sobretudo-depois-de-o-PS-ter-lançado-no-Congresso-o-repto-para-um-entendimento-pluripartidário”, nada se diz sobre a forma de atingir os objetivos pios e universais que se anuncia como se de uma imensa novidade se tratasse.
A lógica subjacente ao documento é basicamente a seguinte: a Educação está mal nos Açores e é necessário que melhore, o que só pode acontecer, num horizonte de dez anos, se o PSD ganhar as eleições. Como? Bem, caro leitor, vai ter de votar para ver. É uma questão de fé e de empatia com o estilo, porque substância não encontrará alguma.
Vejamos alguns exemplos. Primeiro avanço de Duarte Freitas sobre o programa: “maior estabilidade nas políticas educativas, mais formação e melhores apoios, para que os estudantes possam ter sucesso no ensino e na sua vida futura”. Vago? Também me parece. Atentemos mais adiante: “pretendo dar novas oportunidades a todos os jovens dos Açores, construindo num horizonte temporal de uma década uma escola de futuro”. Continua vago? E ainda um pouco mais adiante: o programa passa por “maior rigor e por considerar os professores e restantes agentes do setor como aliados” das políticas educativas. E é isto, caro leitor, a Escola de Futuro.
III. O PSD ficou obviamente incomodado com a proposta do Presidente do PS e do Governo, para que participe num esforço conjunto de definição de um quadro estável e alargado de reforma do sistema educativo. Não devia, porque se trata de fazer o que for preciso em prol do combate ao insucesso escolar e ao abandono precoce. Não devia, porque isso significa que se demite de ter uma voz consequente numa matéria que considera ser a prioridade absoluta para o futuro da Região. E não devia, sobretudo, porque revela que o PSD ainda não foi capaz de ultrapassar a ideia de que o compromisso interpartidário diminui as suas chances de ser poder, esquecendo que, mesmo que isso fosse verdade, aumentaria de qualquer modo as hipóteses de os Açores e os Açorianos terem um melhor futuro!