Lá diz o ditado que “uma mentira dita muitas vezes corre o risco de passar a ser verdade”.
No turbilhão de informação e de mediatismo em que vivemos, por vezes assimilamos os títulos e as frases feitas e não temos tempo ou oportunidade para ver e ouvir tudo o que se diz sobre determinada matéria.
A este propósito, há poucos dias, este mesmo jornal tinha um alerta de capa com uma notícia em que o Deputado do Partido Popular Monárquico, eleito pela Ilha do Corvo, afirmava que a liberdade estava “amordaçada” no Parlamento dos Açores!!!
Essas referências sintomáticas do referido Deputado chegam a ser ofensivas para os açorianos e para as instituições públicas regionais, que jamais estariam predispostos a tolerar atropelos ou desrespeitos nesse âmbito e são profundamente injustas tendo em conta as regras de funcionamento da Assembleia Legislativa dos Açores.
Afirmo-o com a tranquilidade política e moral de quem faz parte do Partido Socialista, o partido que liderou o processo de revisão da lei eleitoral que garantiu um Parlamento mais plural, passando de 3 para 6 partidos políticos. Que liderou o processo de elaboração do regimento da Assembleia, o que melhor e mais protege os partidos da oposição no nosso país. De quem faz parte de um partido político que apoia um Governo sempre disponível para estar nas Comissões Parlamentares e no Plenário sujeitando-se ao escrutínio e à fiscalização legítima de todos os partidos, como se pode constatar quase todas as semanas da vida política regional. De quem faz parte de um partido, cujo Presidente, sendo Presidente do Governo, faz questão de estar em praticamente todos os Plenários, sempre disponível para prestar contas perante os deputados eleitos pelo povo Açoriano.
Um titular de um cargo político desempenha essas funções como muito bem entende. Em total liberdade, em conformidade com as regras democráticas vigentes, mas tem a obrigação primeira de qualificar a democracia, de protegê-la, de valorizá-la e de não ter abordagens levianas, que desrespeitam as gerações que nos antecederam, que arriscaram ou perderam a vida para que possamos, hoje, viver em democracia.
Esses estarão atónitos com este tipo de afirmações.
E não deixa de ser curioso que o Sr. Deputado que fez a afirmação que originou o tal alerta de capa neste jornal e que motivou este meu humilde artigo, tenha feito a referida afirmação num ponto da agenda em que tinha 25 minutos para falar, o mesmo tempo que os 31 deputados do PS em conjunto.
Curioso também que essa afirmação tenha sido feita na sequência de um alerta da Presidente do Parlamento, pelo facto de se estar a referir a um assunto que não estava no âmbito da proposta em discussão…proposta apresentada pelo referido Deputado.
Enfim…”privilégios” que a democracia e a tal liberdade “amordaçada” garantem…