Opinião

Da fruta e do poder

I. Existem duas formas básicas de apanhar fruta. Uma, a proativa, implica esticar o braço ou subir uma escada e colher o fruto. A outra, a passiva, reduz-se a puxar uma mantinha para junto da árvore e esperar que a fruta caia. No primeiro caso, o sucesso da apanha depende da vontade e capacidade de quem apanha; no segundo, pelo contrário, uma boa ou uma má colheita são apenas consequências potenciais do estado do pomar. A estratégia do PSD/Açores para vencer as próximas eleições regionais assenta exclusivamente na segunda modalidade de apanha de fruta. Mais do que se apresentar aos Açorianos como alternativa com argumentos para ser poder, apresenta-se como o partido que está melhor colocado para colher o poder se ele cair da árvore. Como o pomar já tem alguns anos, o PSD acha que não vale a pena ir buscar a escada e fazer pela colheita. É mais fácil arrastar a mantinha e deitar-se à sombra da bananeira, esperando que a idade e o peso do cacho as faça cair. II. O problema do PSD é que transformou uma questão que depende de empenho, capacidade e trabalho, numa questão de fé, demitindo-se da sua quota-parte de responsabilidade. Mas não é só. A idade do pomar só é relevante se não tiver havido cuidado na sua gestão e manutenção. A fruta cai apodrecida quando não se limpa o terreno frequentemente, quando não se assegura um sistema de rega adequado, quando não se poda e limpam as árvores regularmente, quando não se substituem atempadamente as árvores menos férteis, quando não se protege o pomar dos pássaros e de outros invasores. Um pomar cuidado e bem tratado dura o tempo que a qualidade da fruta colhida justificar, porque, no fundo, quem decide é quem a consome. Aliás, na Madeira o PSD tem um pomar com o dobro da idade daquele que é gerido pelo PS nos Açores e os madeirenses continuam a achar que a laranja é doce e que ainda não está para cair de podre. Parece-me que o problema do PSD/Açores é também de consciência. Tendo em conta o seu passado de 20 anos na gestão do pomar, os social-democratas continuam a não querer acreditar que foram eles que falharam na manutenção e sim o tempo que se encarregou de estragar a fruta. E isso é particularmente evidente se atendermos ao facto de, por exemplo, o atual líder ser do tempo em que o laranjal deixou de produzir e de haver dois atuais deputados que são mesmo anteriores a 1996. III. O PSD/Açores entendeu concentrar os seus esforços de campanha a tentar vender aos Açorianos a ideia de que a fruta apodreceu, como se não fossem os Açorianos, enquanto fonte original do poder e destinatários da ação governativa, aqueles que estão melhor habilitados a fazer esse juízo. De manta estirada e com o olho na árvore, o PSD aguarda que se cumpra uma suposta Lei da Gravidade política, resgatando, assim, o seu direito natural de exercer o poder. Não percebe ou não quer perceber que os Açorianos é que decidem, livre e democraticamente, tal como os Madeirenses o fizeram quando concederam 11 maiorias absolutas ao PSD.