1- Quatro milhões de euros. Foi o que a Comissão Europeia destinou a Portugal no âmbito das ajudas extraordinárias a atribuir aos produtores de leite em toda a Europa. Partindo do pressuposto que o “bolo” total era de 350 milhões de euros, é manifestamente pouco. Mais no caso dos Açores, quando ainda nem sequer se sabe que porção dessa parca fatia nos caberá. Num contexto de fim de quotas, de embargo das importações pelo mercado russo e por um decréscimo acentuado nas importações chinesas de laticínios, é preocupante a quantia destinada ao apoio aos agricultores portugueses, quando nos deparamos com atribuições de 58 milhões de euros à Alemanha, 50 milhões à França e 30 milhões ao Reino Unido, por exemplo. Não obstante a disparidade entre níveis de produção que justifica obviamente a diferença de montantes atribuídos, a sensação com que se fica é que não foram, de modo algum, atendidas especificidades, em especial no caso de uma Região com um setor primário denso como a nossa, com as características decorrentes de uma ultraperiferia que lhe é inerente. Por cá, já anunciámos que serão reclamados dois milhões do montante atribuído a Portugal. Produzimos 30% do leite nacional, 50% do queijo. Não obstante ser insuficiente no cômputo geral, é o possível face ao anunciado. Esperemos para ver o que vai “calhar” a Portugal na distribuição dos 150 milhões de euros destinados aos agricultores que voluntariamente mostrem disponibilidade para reduzir a sua produção.
2- A semana passada François Hollande afirmou que a União Europeia seria extremamente injusta com Portugal se aplicasse as tão mal-afamadas sanções, relembrando o tremendo esforço e sacrifício que os portugueses já fizeram. Mais disse que “o projeto europeu não se pode reduzir simplesmente a regras e à disciplina”. Concordo na íntegra, ainda por cima vindo do Presidente de um país que viola repetidamente as metas de défice impostas por Bruxelas tendo, ele próprio, afirmado que reduzir o défice não era prioridade nem nunca iria ser durante o seu mandato. Bem que me lembro de parangonas que rezavam “França e Alemanha escapam a sanções por défice excessivo”. O que tem piada (ou talvez não) é que foi o próprio comissário alemão um dos que discordaram da solução “sanção zero” e reclamaram pela aplicação de um valor concreto a Portugal “também para mostrar a credibilidade das regras”. A hipocrisia dos anafados é ilimitada, como recorrentemente se tem visto. Estamos perante um verdadeiro pontapé em quem está em baixo, ainda que a levantar lentamente a cabeça. Não se compreende em que é que, com a aplicação de sanções, se beneficia um país que se encontra em recuperação e que necessita de tratar as suas contas públicas “com pinças”. Parece-me uma clara inversão de uma lógica que se desejaria benéfica para todos os países da União Europeia, não uma em que os “grandes” seguram os “pequenos” sob o seu calcanhar.
3- Entretanto (e não obstante), chegam notícias de que em Portugal o défice foi reduzido em 971 milhões de euros no primeiro semestre do ano. Que as intenções de voto no PSD desceram a pique nos últimos sete meses. Que António Costa admite processar Bruxelas se for isso o necessário para defender o país no caso “sanções”. Que o desemprego no país voltou a cair em junho. Que Portugal está, devagar mas de forma equilibrada e sólida, a recuperar. António Costa tem dado provas ao país de que é um Primeiro-Ministro capaz e hábil, merecedor de confiança. De forma perspicaz e sóbria, sem quaisquer folclores típicos de outros políticos. Tem provado que sabe governar. E tem provado que a “Geringonça” – esse monstro funesto criado pela oposição – afinal funciona bem e de forma eficaz, oleada pela vontade de levar Portugal para a frente.