Opinião

O Enterro da Austeridade

No encerramento do último congresso nacional do PS, em Junho passado, António Costa esclareceu o fundamento do seu apregoado otimismo. O Secretário-geral do PS revelou ser otimista por natureza mas que na política era otimista quando acreditava convictamente que com as políticas corretas e com o esclarecimento dessas decisões era possível convencer os mais céticos e alcançar os resultados pretendidos. Esta “doutrina do otimismo” de Costa foi divulgada no momento em que se adensava a possibilidade de Portugal vir a ser alvo de sanções, por parte da Comissão Europeia, devido à violação da meta do limite do deficit orçamental referente à execução do ano de 2015. Com a sua reconhecida astúcia, Costa proferiu no encerramento do Congresso do PS um discurso memorável com um compromisso claríssimo: Portugal tinha a razão do seu lado e por isso iria lutar contra a aplicação de sanções por parte da Comissão. Costa estava perfeitamente consciente dos riscos políticos que corria. Por diversas vezes a Comissão alertou que seria intransigente na violação das regras que tinham sido estabelecidas. António Costa estava a declarar guerra à Comissão Europeia. A batalha que Passos Coelho nunca teve a coragem de travar, preferindo comportar-se como o “bom aluno da austeridade”. Anteontem todos os órgãos de comunicação social avançavam os montantes da multa que o País iria sofrer. Ontem, depois de três horas de reunião, a Comissão emitiu a seguinte comunicação – “Tendo em conta os esforços passados de Espanha e Portugal, o atual ambiente desafiante e os argumentos apresentados, o colégio concordou hoje propor o cancelamento das multas para ambos os países.” O Primeiro-ministro português obteve uma grande vitória política. Costa arriscou mas fê-lo com base em argumentos sólidos que confrontaram a Comissão com as suas próprias contradições e com os resultados desastrosos da consolidação orçamental por via da austeridade. Portugal não pode prescindir do rigor financeiro nem da disciplina orçamental mas a decisão da Comissão permite declarar o enterro da austeridade.