Opinião

De Lá para Cá. Investiga-se, logo existe?

Para bem de todos, a ciência fez-se de pequenos e grandes sábios curiosos. Faz-se de estudos e do empirismo como o saber acumulado pela experimentação. Creio que nunca se falou tanto em investigação sobre uma determinada população como agora, nem mesmo quando as cobaias e outros infelizes animais foram usados para experimentação (modelo animal) para tudo e mais alguma coisa. À custa deles, avanços houve que a humanidade agradece. À custa deles ainda se investiga para a humanidade depois agradecer, assim como também à custa deles muitas experiências fracassadas passaram à história, alertando-nos para a necessidade de uma investigação consequente, alicerçada em postulados e objetivos bem definidos, principalmente se estudarmos os humanos. Da extrapolação do modelo animal para o humano, ou da passagem da fase de experimentação no animal para o homem, há um extenso caminho em que entra aquilo que nos diferencia pelos direitos inerentes e os adquiridos pela condição humana, plasmados em declarações universais. A confidencialidade, a anonimização requerida nos estudos, a segurança, o consentimento informado, com direito de recusa em qualquer fase do estudo, a caracterização da amostra, a finalidade do estudo e por aí fora; fazendo que não seja possível nem desejável estudar inconsequentemente sem o perigo de exposição de qualquer indivíduo ou grupo de indivíduos de uma determinada população. À parte isto existem condicionantes matemáticas da amostra para validação dos estudos científicos, sob pena de serem estigmatizantes sem serem caracterizantes seja do que for. Por este motivo, e por muitos outros que estão na génese dos estudos científicos, desde os ensaios clínicos (neste caso talvez os menos difíceis) até aos estudos de caracterização populacional, existem regras e organismos de consulta para cumprimento destas regras, a quem devem obrigatoriamente serem submetidos estes projetos de investigação, passando obviamente pelo estrito respeito pela proteção dos dados e das pessoas objeto do estudo. Tratando-se de estudos sobre os humanos, cabe às Comissões de Ética para a Saúde e em casos concretos à submissão da Comissão Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) a apreciação de todos os requisitos necessários para aprovação de tais estudos. Obviamente que não há estudos científicos sem investigadores com currículo adequado para a sua validação. Currículo científico necessário, diria até absolutamente necessário, para dar o nome e coordenação ao projeto de investigação e depois disso, entram os “aprendizes” como no caso dos candidatos a técnicos de saúde, seja de que Escola ou de que Universidade for. Creio que já perceberam a amplitude de se publicitarem estudos sobre o perfil psicológico ou patologias em quem se reformou mais cedo do trabalho numa Base Militar, numa pequena cidade açoriana, não comparável com outra qualquer base militar em “downsizing” em Portugal; o que seria uma característica mais próxima; nem mesmo na Europa. Infelizmente o caso mais descarado de reformas antecipadas em Portugal tem sido na Banca e ainda não fizeram, que eu saiba, estudos sobre isso. Entre os deprimidos e os aliviados, entre os que estavam em “burnout” e os que em “burnout” lá ficaram depois do contínuo e atual “bank downsizing”, talvez desse um estudo qualquer; infelizmente em ambos os casos, sem aplicação prática, precisamente porque não haverá um padrão único de causa efeito, nem revisão das decisões tomadas. Mais ainda, toda a caracterização populacional desprevenidamente tratada, pode levar a discriminação no acesso ao recrutamento para novo emprego, aos seguros de vida, de saúde e outros, aos empréstimos bancários, a inferir padrão familiar e até mesmo no caso terceirense, poder impedir a emigração para o país que os despediu. Se este tipo de investigação não servir para nada; que nunca sirva para o que se disse acima. Dionísio Faria e Maia – médico, deputado do GPPS na ALRAA