Opinião

Massa à la Cristas

Lembram-se da receita da massa com atum que Assunção Cristas foi fazer ao programa da Cristina? Pois, nós também não. Apresar de apreciarmos uma boa massa com atum, a massa que aqui queremos falar é maioritariamente outra. Mas a receita é também da líder nacional do CDS-PP. Acontece que por não sabermos os temperos e modo de confeção da televisiva massa com atum isso não acarreta qualquer problema, já o mesmo não podemos dizer quanto à outra receita que envolve massa e Cristas. Qual não foi o nosso espanto ao vermos, com total estupefação e posterior alarido na comunicação social nacional, uma proposta referente a uma solução alternativa para ingresso no ensino superior público. Como todos sabemos, o ingresso é feito - salvo exceções devidamente previstas na lei (como por exemplo os atletas de alta competição) - tendo em conta a média de cada aluno no ensino secundário. Resumindo, os alunos concorrem aos múltiplos estabelecimentos de ensino superior público com uma determinada nota. Nota e não notas! Ora, a Senhora Cristas, toldada por sondagens que já colocam o seu partido taco a taco com a Aliança ou o Chega, deve ter olhado para esta questão e pensado que podia estar aqui uma boa oportunidade para obter ganhos políticos. Ou pelo menos recuperar a velha máxima santanista: “falem bem ou falem mal. O importante é que falem.” Vai daí e, talvez julgando que ainda estava no programa da Cristina, lembrou-se de inventar a tal solução alternativa. E qual é mesmo essa outra via? O CDS-PP propõe então que os alunos excluídos pelos chamados "numerus clausus" possam pagar uma universidade pública "a preços de mercado", de acordo com as regras do concurso nacional de acesso. Na proposta em questão lê-se que o "Estado só manda abrir as vagas que está em condições de financiar, pelo que estes alunos ajudariam a financiar, ao preço de mercado, as vagas que ocupariam.” Isto é, havendo massa ou notas esquece-se a nota exigida para entrar no curso e tudo o que essa nota representa e fica o assunto resolvido. Temos, assim, uma mistela entre ensino público e ensino privado no mesmo estabelecimento. A receita deve ter por inspiração aquela frase, típica da culinária portuguesa, que nos diz que cabe sempre mais um prato na mesa. Ora, num ensino público que se quer de qualidade, com elevados padrões de exigência, com justiça e, consequentemente, com igualdade de oportunidades, não se concebe, e muito menos se aceita, que em pleno século XXI haja um partido, ainda por cima com histórico na governação do País, que entenda que a soma de várias notas é mais importante que o mérito subjacente a uma determinada nota. Nota essa que, muitas vezes, é obtida à base de massa com atum. Real e não aquela que foi encenada para Cristina (e o País) ver.