Na reacção aos resultados eleitorais Alexandre Gaudêncio surgiu, estranhamente, alinhado com a narrativa preparada por Rui Rio para reagir ao mau resultado do PSD, no entanto, contrariamente ao líder nacional, que se refugiou no resultado obtido pelo PSD em 1983 (27.24%) o que lhe permitiu responder à questão retórica "É este o pior resultado de sempre do PSD?", com um efusivo não, Gaudêncio, não tinha um ponto de comparação que lhe permitisse utilizar a honrosa técnica de esconder o mau atrás do péssimo, e, à falta de recursos e imaginação, procurou aligeirar a derrota atirando sobre "aqueles que auspiciavam uma derrota histórica do PSD nos Açores", afirmando, sem pudor, que "saiu-lhes o tiro pela culatra".
Desconhecendo os auspiciosos atiradores, que eventualmente serão meros espantalhos de falácia, importa referir, sublinhando o seu acerto, que os resultados eleitorais comprovam, por cálculos e não por adivinhação, uma derrota histórica do PSD/A.
Histórica porque os 30,21%, obtidos pelo PSD nos Açores são o pior resultado de sempre em eleições legislativas nacionais e significam uma perda de 6% do eleitorado, face a 2015.
A este facto, já por si histórico, acresce que em 8 das 9 ilhas, incluído no Pico, o PSD/A registou os seus resultados mínimos (Terceira 31,05%, São Miguel 29,28%, Faial 33,22, Pico 38,38%, São Jorge 26,49%, Graciosa 31,27%, Flores 21,09% e Corvo 0,57%), sendo a única excepção Santa Maria, onde os reduzidos 24,93% alcançados, ainda assim, estão acima dos 21,46%, verificados em 1999.
É também uma derrota histórica se considerarmos que nas 156 freguesias da Região, o PSD/A foi a força política mais votada somente em 35, quando em 2015 o era em 58, e que dos 19 Concelhos, apenas na Madalena o PSD/A continua a ser o partido mais votado, sendo de salientar, pelo seu simbolismo, que inclusive na Ribeira Grande o PSD/A ficou atrás do PS/A.
Por fim, uma derrota histórica por ser, desculpem-me a redundância, a segunda derrota histórica do PSD/A em 2019, pois os 20,65% verificados em maio, nas eleições para o Parlamento Europeu, configuram também o pior resultado registado naquele ato eleitoral.
Perante esta derrota, que só pode ser adjectivada de histórica, as declarações de Alexandre Gaudêncio assemelham-se a uma cena típica dos Looney, não do partido britânico O.M.R.L.P., mas dos Looney Tunes, em que a personagem, normalmente Wile E. Coyote na ânsia de apanhar oRoadRunner (Bic Bic), corre desenfreadamente sobre um penhasco e após o precipício contínua em corrida aparente, até que, alertado, olha para baixo e caí no desfiladeiro, imagem que se coaduna, em pleno, com a menção absurda (mas sincera...) ao trabalho de sapa como sendo a via adequada para alcançar vitórias eleitorais.
Em suma, a tentativa de atirar sobre os oráculos regionais foi um tiro de pólvora seca, ou, na imagética Bic Bic, um tiro em que a bala é uma bandeirinha que diz: "Derrota!". That'sallFolks!