Opinião

Euro-dose

É bem verdade que a diferença entre o remédio e o veneno está na dose. E também na posição. A extrema-direita populista, onde detém o poder, fanfarrona com o vírus, à espera de um duelo suicidário que traga imunidade de grupo, já e a qualquer preço. Um imbecil do Texas, amigalhaço de Trump, aconselhou os velhinhos a predisporem-se para o sacrifício, em nome dos filhos e netos, da economia e, presume-se, que da Pátria. Bolsonaro revoga as quarentenas decretadas pelos governadores estaduais e faz a pedagogia do "resfriadinho", de tal sorte que é o crime organizada das favelas que impõe o recolher obrigatório, sob ameaça de bala: os pobres aprenderam no couro a identidade de classe com o mexilhão... Por cá, o saltimbanco Ventura quis-se pôr a visitar hospitais públicos, aqueles que no seu programa deviam acabar. E defende quarentenas e isolacionismos, com o zelo de quem sempre odiou uma sociedade de cidadãos. Felizmente tem poucos, apesar de virulentos, zelotas... A União Europeia ainda não percebeu que o desafio que a pandemia para si representa é o maior desde a sua fundação. Que aliás ocorreu, em primeiro lugar, no espírito de manter a paz e a democracia entre os seus membros, quando o horror e o absurdo da Guerra ainda estavam quentes. O mercado comum, primeiro do carvão e do aço, era apenas um instrumento estratégico... Mesmo depois das tolices e da desorientação estratégica na crise de 2008. É claro que nesta altura, em vez de Draghi, termos uma espécie de caniche elegante, que passeia malas Louis Vuitton é, como terá dito alguém que errou o tiro, o "azar dos Távoras"! Pois o desafio é comum e a solução tem que ser conjunta, usando todos os instrumentos que a enormidade da crise reclama. Bem andou António Costa ao não poupar nos adjetivos a um "polícia do Norte" e a qualificar o seu zelo com Espanha de repugnante...