Foi preciso fechar as ilhas. Nada de estranhos, de costumes e linguajar. Ninguém sai e ninguém entra. Fechadinhos em casa, a espreitar pelo postigo que já não temos o mar que sempre nos conformou. Circular é quase proibido. Mais de cinco será considerado provocação à DGS. Trabalhar, só se for essencial, mas antes pelo big-brother da rede. Beijos, abraços e outros aconchegos são de uma extrema inconveniência e imoralidade. Plastifiquemo-nos, cidadãos! O confinamento é a nova dimensão da virtude. Espirrar dá direito a auto de notícia e segregação devida aos pestilentos. Já nem de cotovelo nos podemos tocar, não pelo risco de dor inconveniente, mas por causa do “penalty” dos dois metros da marca que é o outro. Enquanto os novos feiticeiros não inventarem a poção mágica, estamos nesta semi-vida. Um terço da Humanidade sequestrada, e a luta de classes é já entre os do “tele-trabalho, e os “famélicos da terra”, que têm de continuar a “sujar as mãos”.
Para nós, açorianos, não é historicamente inédito. O Mar sempre foi mais isolamento que partida, por onde chegavam corsários que levavam o que era nosso. A pobreza fazia com que a ilha fosse demasiado grande para a conhecermos bem. Para além de sismos e outros temporais. E depois pensámos que éramos modernos, ricos e democratas; saudáveis, prósperos e livres… até o bicho abanar essa ufana trindade! Mas é o estádio civilizacional que temos, mai-la quarentena, que nos livra, de forma também inédita, de milhões de mortos à escala global. Temos, pois, de nos conformar. Sem nos deformar, com tristes e indignos hábitos. Com redobradas ganas, a vida digna vai voltar! Para desgosto de uns poucos servos de seitas autopenitentes, autoritárias e separatistas, que se afadigam a celebrar nas redes a sua missinha negra!