Opinião

Ousadia ou Prudência?

A resposta dos líderes europeus à crise financeira de 2008 gerou divisões entre países da UE que, como recentemente se constatou, ainda hoje não estão sanadas. Nessa altura, emergiram duas fraturas na União Europeia. Uma entre os estados do norte e os do sul, e outra dentro de cada estado. Em causa um mesmo dilema, quem devia assumir os custos de superação da crise. A solução foi imposta pelas instituições da UE em linha com a receita preconizadas pelos países ricos do norte, sujeitar os governos da periferia europeia a programas punitivos de austeridade draconiana. Depois de apelarem a todos os governos europeus para promoverem ambiciosos planos de investimento público para “estimular a economia”, financiando com dívida pública os seus gigantescos deficits orçamentais, o clube dos países ricos da União decidiu travar a fundo para evitar uma crise de dívidas soberanas. A solução da crise pós 2008 fragilizou o projeto de integração europeia. Afinal qual o sentido e que expressão tem a tão apregoada solidariedade europeia, sobretudo em momentos cruciais? A crise que a União vive em consequência da pandemia do COVID-19 é uma circunstância de contornos existenciais para a UE. Um momento de “vai ou racha” que só pode ser superado recorrendo à solidariedade assente no recurso a medidas radicais e inéditas. Se são as grandes crises que fazem os grandes líderes, então estamos perante uma circunstância que apela ao surgimento das grandes personalidades que marcam a História. Esta é a semana decisiva, a derradeira oportunidade de Angela Merkel esclarecer que papel terá na História da União Europeia. Será ela capaz de assumir a ousadia visionária de Konrad Adenauer, capaz de enfrentar o seu parlamento federal, a opinião pública alemã e a extrema direita; ou relevará a sua tendência conservadora de prudência, ponderação e contenção?