Opinião

Regresso ao Futuro

Conforme escrevi aqui na passada semana, considero que a União Europeia vive uma circunstância de contornos existenciais. Um daqueles momentos de “vai ou racha”. Após a grande crise financeira de 2008 vulgarizou-se a ideia que quer a União Europeia, quer a moeda única, estavam permanentemente em risco de desagregação. Passamos três anos a ouvir esses prognósticos. Essa fase relativamente recente, instalou a perceção que as divergências entre os países da União são excessivamente dramatizadas pelos políticos mas que no essencial acabam sempre num final feliz. A realidade foi mais complexa. A União atravessou, de facto, vários momentos críticos até estabilizar o Euro e superar a crise de 2008. No essencial a superação da crise de 2008 foi baseada no que classifico de pensamento Goldman-Sach, o sucedâneo do que anteriormente se designava por liberalismo da Escola de Chicago e que substituiu este no topo da hierarquia do FMI. A crise que a União atravessa atualmente é diferente, quer conjunturalmente, quer estruturalmente. Será uma questão de semanas até todos os países da União sofrerem os efeitos socioeconómicos da pandemia. Ao contrário de 2008 não haverá uma fratura entre “indisciplinados” e “bons alunos”. A devastação económica contagiará todos os países e afetará, em especial, as grandes economias exportadoras da União, as mais beneficiadas com a integração europeia. A solução da atual crise da UE não será eficaz se recorrer a mecanismos convencionais, como aconteceu no passado. A União necessita de emitir dívida pública subscrita pela UE com um teto máximo e por um período limitado, a vulgarmente designada mutualização de dívida. Este passo em frente seria um marco histórico para a União e representaria a aurora de um novo tempo de solidariedade e de esperança que a Europa não vive desde o Tratado de Roma de 1957. Um verdadeiro regresso ao futuro.