É motivo de orgulho e de congratulação que o jornal mais antigo de Portugal, e um dos dez mais antigos do mundo, com publicação contínua, tenha sido fundado há 185 anos nos Açores!
Saúdo, desta forma, pela passagem de mais um aniversário, todos os colaboradores do Açoriano Oriental, na pessoa do seu atual Diretor Paulo Simões, e endereço a minha sentida homenagem a todos aqueles que, ao longo de 185 anos, trabalharam e se empenharam para que este fosse um título de referência para os Açores.
É, por isso, tempo de recordar a iniciativa e o dinamismo do seu fundador, Manuel António de Vasconcelos, político e jornalista, que, quatro meses após ter sido promulgada a nova Lei da Liberdade de Imprensa, a 22 de dezembro de 1834, editava aquele que se viria a tornar no diário líder nos Açores.
Importa referir que, na conturbada conjuntura política que se vivia na época, com a monarquia a ser cada vez mais contestada e com as posições cada vez mais extremadas entre liberais e conservadores, a imprensa era um veículo privilegiado na divulgação das diferentes ideologias e na tentativa de dialogar com o público e alertar para a realidade complexa que se vivia no país.
Os 185 anos dos Açoriano Oriental são, também, um reflexo da nossa própria história – contribuiu para a divulgação dos primeiros ímpetos autonomistas do século XIX, viu nascer a liberdade na madrugada de abril de 1974 e acompanhou a autonomia constitucional desde o seu reconhecimento na Constituição de 2 de abril de 1976 até aos nossos dias.
Ao longo do século XX, o Açoriano Oriental deu um contributo indelével para a importância do papel da imprensa. Às condicionantes políticas e sociais que se viveram durante o Estado Novo, seguiu-se a reposição da liberdade de imprensa e, consequentemente, uma reorganização dos meios de comunicação após a Revolução de 25 de abril de 1974.
Era, assim, necessário continuar a informar com rigor e com verdade, já livres do lápis azul da censura, mas com a responsabilidade acrescida de ser transmissor da informação às populações. Neste âmbito, o Açoriano Oriental, a partir de 1979, passa a publicar-se diariamente pelas mãos do então diretor Gustavo Moura, figura incontornável na história do jornalismo açoriano.
É neste contexto, que o Açoriano Oriental sempre se apresentou como um jornal de informação regional, rigoroso e objetivo, cumprindo uma importante função cultural, social e política na construção da sociedade açoriana e, também por isso, para além de muitas outras homenagens e distinções, foi agraciado, em 2008, com a Insígnia Autonómica de Mérito Cívico pela Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores e pelo Governo Regional dos Açores.
Quando assinalamos estes 185 anos de publicação ininterrupta, importa ainda destacar, e porque nunca é demais fazê-lo, o papel da imprensa como pilar da democracia. A imprensa, enquanto meio de comunicação de excelência, desempenha, indubitavelmente, um papel fundamental nas sociedades democráticas porquanto é através dos meios de comunicação que os cidadãos são informados e têm acesso à opinião publicada, ajudando-os a construir e a formar opinião sobre as mais diversas questões políticas e sociais, fundamentais para a prática de uma cidadania responsável, fortalecendo, desse modo, a democracia.
Mas a importância de uma imprensa rigorosa, factual e isenta, é tão mais importante quando as sociedades se defrontam com períodos de crise, seja ela política, social ou económica.
Esta é a realidade com que estamos confrontados atualmente - vivemos uma pandemia que afeta a nossa forma de estar e coloca em perspetiva a vida tal como a concebíamos. Os meios de comunicação social assumem enorme importância face a esta nova forma de viver, uma vez que é através deles que se veicula a informação sobre os contornos desta pandemia, as suas consequências e sua evolução. Desta forma, o rigor e a procura incessante da verdade são, nestas circunstâncias, exigências que nenhum órgão de comunicação social pode abdicar uma vez que, muitas vezes, dessa informação rigorosa e fidedigna depende o futuro de todos nós.
Mas esta é, igualmente, uma época de desafios para a comunicação social, que necessita de se reinventar face às exigências do convívio social com que estamos confrontados.
Se a comunicação digital, das redes sociais e dos novos veículos de comunicação, já era um desafio deste século XXI, esta pandemia coloca um novo obstáculo aos órgãos de informação, que devem ver nestas dificuldades uma oportunidade de se reinventarem e de estreitarem os canais de proximidade com aqueles que servem.
Este é também o momento de apoiarmos os Órgãos de Comunicação Social para que a sua continuidade não seja colocada em causa. E este apoio não pode, nem deve, ser exclusivo dos governantes, é igualmente uma responsabilidade de toda a sociedade, empresas e particulares, que devem reconhecer na comunicação social livre, rigorosa e isenta, a base da nossa sociedade.
Os meios de comunicação são, por isso, essenciais, assim como é essencial que o rigor e a seriedade do jornalismo e da informação que se produz sejam uma determinante para que, e neste caso concreto, a imprensa cumpra com o seu papel social.
O Açoriano Oriental, jornal de referência histórica nos Açores, sempre se pautou por estes critérios. Devemos por isso, congratular, uma vez mais, o jornal e fazer votos para que continue a sua atividade e a sua longevidade, acompanhando de perto a realidade regional, nacional e internacional, privilegiando o rigor e a objetividade das notícias a que já nos habituou, preservando, assim, a confiança de todos os Açorianos.
A Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores