Opinião

Abril com Saúde!

Celebra-se Abril. “O dia inicial inteiro e limpo”, de Sophia e nosso, em que o povo veio para a rua e transformou um arrojado golpe em revolução. Pondo fim à Ditadura, e abrindo caminhos de esperança. Contra a opressão, a mesquinhez travestida de mansa, as desigualdades gritantes, o analfabetismo conveniente, taxas de mortalidade infantil vergonhosas, submissão de género, censura da comunicação social e do livro impresso, policiamento das consciências e feroz perseguição dos cidadãos livres. A bem da Nação, já se sabe. E só a cobardia dos esbirros acossados derramou sangue em Abril. A Constituição de 76 e a entrega do poder à sociedade civil permitiu a restauração da democracia, das liberdades, um inegável desenvolvimento económico-social e a radical diminuição de muitas desigualdades. Naturalmente com erros, falhas e contradições. Que cabe à própria Democracia e aos seus donos -- os cidadãos -- irem sempre corrigindo. Porque a Democracia não é, felizmente, regime de anjos nem de querubins. Nem produto perfeito ou acabado, que dê folga à intervenção e vigilância cidadãs. É bem verdade -- a democracia é como a saúde: bens preciosos cujo uso infunde sensação de relativo desvalor… Até o “bicho” que nos consome (nem que seja a paciência…), e que obrigou a este estado de emergência, denota a superioridade ética da Democracia, no imperativo constitucional de restrição à restrição dos direitos fundamentais; sem esquecer, também, o inegável mérito dos gestores políticos que estão, por livre alvedrio do povo! Por isso celebrar Abril hoje, no respeito pelas restrições vigentes, é um dever cívico universal; para alguns, que estão honrados com o transitório poder de representação, é mesmo elementar dever de função!