A ressurreição da tele-escola, sendo o exibicionismo coisa intrínseca do digital, e que permite “ver tudo” e “vigiar”, enterrou o hermetismo autárquico da “sala de aula” como espaço confinado, de prazer ou de terror, expondo as performances de todos os intervenientes e acabou assim com alguma implícita tecnofobia – expondo e facilitando o escrutínio e vários julgamentos…
Mas é sobretudo ao nível do ensino superior que algumas tentações se colocam, de modo especial. Isto a propósito das intenções de alguns dirigentes académicos, excitados com o brinquedo de gerir, que têm dito do desejo de prolongar a moda telemática para lá de setembro. Presume-se que o aumento dos tele-alunos por “turma”, e a redução a prazo do número de docentes, para além da redução de despesas logísticas e de outro pessoal também entrarão no cômputo dessa contabilidade de “poupança”.
A este propósito, Giorgio Agamben fala já na morte do estudante e da Universidade, instituição com mil anos, que nasceu das associações de estudantes, antes de mais como forma de vida, de estudo e de escuta de lições, mas sobretudo de encontro e trocas assíduas de saberes e opiniões, entre si e com os professores. A ressuscitação bacoca do método puramente expositivo, relegitimado por via do écran; o poupar no saber e na ciência, ainda ontem heróis, quando o surto apertou; mai-la racionalidade esperta de esquecer que a pobreza do ensino telemático e a sua magreza de custos terão de se refletir num abaixamento das propinas – sem esquecer que a autosuficiência da distância potenciará todas as desigualdades de partida e as desistências aumentarão, levando a menos pessoas com formação superior, num país que ainda não é famoso nesse capítulo …