Os Açores ficaram, desde o dia 16 de novembro, com um governo demissionário. É essa, à luz da alínea a) do n. º 1 do artigo 86 [Demissão do Governo Regional”] do Estatuto Político Administrativo da Região Autónoma dos Açores, a consequência direta do início de uma nova legislatura. Habitualmente, este estado tinha uma vigência curtíssima, uma vez que 24 horas após a posse dos Deputados já estava a ser dada posse ao Governo. Acontece que, por vicissitudes múltiplas inerentes à complexidade de se conseguir uma orgânica e elenco governativo que agrade ou, pelo menos, não receba à cabeça um veto de um dos 5 partidos que foram tão céleres a se entenderem para impedir o partido mais votado de formar Governo, ainda não sabemos quando ocorrerá a posse do próximo Governo dos Açores. Bolieiro, Presidente indigitado desde o passado dia 7, disfarçadamente, para não demonstrar já as fragilidades evidentes da condução de um veículo onde várias mãos seguram no volante, decidiu começar por atirar a posse lá para o final do corrente mês e, mais recentemente, reitera que o que importa é que haja uma "transição tranquila, serena e sobretudo colaborante” com o Governo cessante. Esta postura, contrariando o adágio popular que nos diz que "não se guarda para amanhã o que se pode fazer hoje" e que contraria inclusive a posição assumida anteriormente pelas diversas vozes da coligação que bradavam por celebridade, é sintomática quanto ao que nos espera. Nem o facto de estarmos a atravessar, infelizmente, uma fase crescente em matéria de pandemia fez com que o próximo governo agilizasse os seus procedimentos e, sem qualquer tipo subterfúgios ou até medos, assumisse desde a primeira hora as rédeas da governação dos Açores. Não foi esta a opção. Não por decisão de Bolieiro, mas sim por imposição das circunstâncias. Bolieiro, de manhã apela à “serenidade” e à “transição tranquila” para agradar a uns e, à tarde, para piscar o olho a outros, vê-se obrigado, com a mesma postura e sempre a vincar a “humildade” a cada meia frase proferida, a referir que a posse do Governo será “em pouco tempo, até porque o contexto atual, pandémico, exige uma frente governativa ativa”. Contraditório? Não, apenas um “cheirinho” do que aí vem. Ficamos, desde já, a saber, de forma cristalina, que, no futuro, cada tomada de decisão será sempre assim: ziguezagueante e indefinida. Prevêem-se sessões contínuas de reuniões de Conselho do Governo e, logo de seguida, muitas horas ao telefone para Ponta Delgada, Lagoa e… Lisboa! Governar, nestas condições, não se afigura tarefa nada fácil. Tal como fica evidente com o facto de, desde a data da indigitação, a distribuição de áreas do próximo executivo e diversos nomes já terem sido vetados pelos parceiros do executivo CSD-PP e PPM. Aliás, tem causado muito desconforto no PSD o facto do CDS-PP ter exigido 4 pastas e o PPM duas no próximo executivo. A ser verdade a irredutibilidade destas posições teremos, como se afirma nas hostes laranjas, o partido maioritário da coligação a ficar “com os restos”. Bolieiro, o outrora “presidente amigo”, deve estar a pensar que com amigos destes… No meio de todas estas tricas, birras e guerras da “aventura dos 5” temos os Açores em “modo pausa”. O Povo Açoriano merece respeito e… um governo em plenas funções! Por isso, se não for pedir muito, importam-se de se despachar!