Opinião

Geringonça(s)

  1. Então e a extrema-esquerda?

Esta é uma das perguntas que mais se ouve pelos diversos fóruns de opinião onde estejam presentes defensores da entrada do Chega na esfera do poder. Obviamente, esta pergunta tem desde logo a intenção de legitimar o Chega e, simultaneamente, equiparar o respetivo extremismo às posições assumidas pelo PCP e BE. A ideia é simples: misturar a extrema-direita com a extrema-esquerda e concluir pela total similitude. Desta forma, entendem que não há motivos para quaisquer temores com a vinda, através de um Rio ideologicamente perdido, do Chega para o chamado “arco da governação”. Tal como aconteceu com o PCP e BE desde 2015.Ora bem, a verdade é que comparar o Chega com a denominada extrema-esquerda portuguesa (PCP e BE) é o mesmo que dizer que “A estrada da Beira é igual à beira da estrada”. Não é. E todos sabemos isso. Querem um exemplo recente? À data que escrevo, o presidente do Chega foi notícia por ter sido condenado a pagar uma multa (irrisória!) pela sua atitude persecutória e discriminatória face a uma minoria étnica (“ciganos”) e, após um comentário sobre isto feito pela Deputada Joacine Katar Moreira, disse e cito: “na Guiné é que estava bem.” Continuem, pois, a colocar todos no mesmo saco... Já agora, o Dr. Ventura pede para o saco ser branco…

 

  1. Então e onde estão os acordos de 2015?

Aqui está outra pergunta que tem andado por aí a pairar no ar e que só subsiste porque a memória, por norma, é seletiva e muito influenciável pela forma e ângulo da questão colocada. A pergunta aqui em apreço pressupõe, de imediato, a inexistência de acordos e da respetiva publicitação dos mesmos. Mas, para qualquer interlocutor politicamente atento, a resposta é fácil. E não carece de grande capacidade de memória. Está, simplesmente, ao alcance de um clique no “google”. E aí estão acessíveis dias e dias de programas de televisão, rádio e “resmas e resmas de papel” com notícias e artigos de opinião sobre a mudança no paradigma político-parlamentar português que representou a constituição da geringonça. Os referidos acordos – designados de posições conjuntas – foram escalpelizados até ao ínfimo pormenor, pelo que só não tem acesso aos mesmos quem não quer ter ou então quem deliberadamente anda no mundo da contrainformação.

 

  1. Então e a tua posição foi qual?

Esta é a pergunta com que costuma acabar a conversa em torno do pretendido paralelismo entre a “geringonça” nacional de 2015 e a regional de 2020. A ideia, como é óbvio, é apanhar uma flagrante contradição. Mas, na verdade, terão de ir bater a outra porta. Em 2015, enquanto membro do secretariado da secção do PS Ponta Delgada, demonstrei a minha oposição ao caminho que se estava a trilhar, dizendo, mais palavra menos palavra, que: “A soma aritmética dos votos de três derrotados, para além de politicamente impossível, não tem como resultado um vencedor. O povo não deu a vitória a nenhum dos partidos de esquerda.” Em 2017, no pós-autárquicas, foi discutido no PS Ponta Delgada a questão da Presidência da Assembleia Municipal, e sabem qual foi a minha posição? Sim, mesmo o PS tendo mais mandatos que o PSD, defendi que devia ser o PSD, como partido vencedor da eleição direta para aquele órgão, a assumir a presidência. Agora, perante uma coligação composta por 5 partidos que se apresentaram ao eleitorado desavindos entre si e que foram rejeitados nas urnas, mantenho a posição de sempre: a incumbência de governar compete ao partido mais votado!