Opinião

A caminho de uma escola insulada

Não é minimamente aceitável. Definitivamente. Não é mesmo minimamente aceitável. Como é possível defender-se uma escola para todos sem que se defenda que a todos se deva oferecer as mesmas oportunidades de aprendizagem? Como defender-se uma escola desigual, desigual por princípio da sua livre autonomia? Como é possível um governo de uma região com nove ilhas pretender não lutar para que, dentro da escolaridade obrigatória, todas elas possuam uma equitativa oferta pedagógica, uma equitativa oferta de todas as condições escolares? Definitivamente, não é mesmo minimamente aceitável.
O discurso da maior autonomia das escolas associado ao da livre escolha dos pais é algo que obriga a uma explicação muito clara do que tal intenção efetivamente quererá significar. Obviamente que não devem os encarregados de educação perder o direito de solicitar a frequência dos seus filhos numa escola que não a da sua área pedagógica. É uma liberdade que lhes assiste, e assim deverá continuar a ser. Obviamente que a adaptação do ensino/aprendizagem a cada um dos nossos alunos é condição sine qua non para o sucesso de cada um deles. É uma lógica pedagógica que lhes assiste, e assim deverá continuar a ser. Mas que nada de isto se confunda com um investimento liberal de uma escola numa determinada ilha, eventualmente porque seu Diretor(será assim no futuro?!) é alguém muito empreendedor e até com acesso a determinados meios, em contraponto com o desinvestimento numa outra, muito provavelmente de uma outra ilha até. A ser este o caminho, que será feito então da basilar igualdade de oportunidades aos alunos do nosso arquipélago?
A defendida e implementada, pelo anterior governo, flexibilidade curricular, é uma lógica que nunca navegou sem azimute. As escolas beneficiam hoje de um determinado grau de liberdade para a adaptação do seu ensino às distintas capacidades de aprendizagem de seus alunos. Esse entendimento é correto e indispensável. Dar exatamente o mesmo a todos, não é obrigatoriamente pugnar pela igualdade. Mas importa não nos perdermos nas ideias, arrumemo-las. O pretendido com o instrumento de flexibilidade curricular é, precisamente, a igualdade, ou melhor, a equidade, permitindo-se que se distinga positivamente cada um dos nossos alunos pela sua individualidade, perseguindo-se o objetivo maior que nenhum deles abandone o seu próprio esforço de aprendizagem. Muito diferente disto será o de retrocedermos, e em muito, no tempo. Muito diferente disto é o meu filho, na localidade onde vive, estar à mercê da sorte para o garante daquilo que o governo deve continuar a bater-se para as nossas escolas: o acesso de todas as nossas crianças a um idêntico ensino de qualidade. Muito diferente disto será o facto de muitos daqueles que mais recursos possuem não se incomodarem minimamente com este desequilíbrio, regozijando-se até por, inacessivelmente, se poderem todos juntar numa só escola, selecionada desde logo, eventualmente, pelas suas superiores condições.
E muito se lutou até hoje, luta longe de estar ganha, para que todas as crianças e todos os jovens, das maiores às mais pequenas ilhas, sintam como real o acesso a condições de vida condignas e equivalentes aos demais. E é este o caminho. Não há que hesitar. E permitir uma profundar desse fosso no lugar de perseguir o seu nivelamento é não compreender a condição de adversidade suportada diariamente por muitas famílias, a pesada condição com que muitas crianças e jovens enfrentam as exigências que lhes são impostas no caminho da escola.