I
Tal como esperado, teremos um segundo mandato de Marcelo em Belém. A vitória, ainda que clara, inequívoca e histórica, foi ensombrada pela maior abstenção de sempre. Obviamente que o contexto pandémico ajuda, e muito, a explicar o facto de menos de 40% dos eleitores inscritos terem decidido ir às urnas. Mas, na verdade, continuamos a assistir a um crescente e preocupante défice de participação. A Democracia cumpre-se nas urnas. A legitimidade dos eleitos advém da contagem dos votos. E quanto menos votos… Em 2016, por exemplo, aquando da primeira vitória de Marcelo, a abstenção já havia ultrapassado os 50%. Temos, portanto, instalada na sociedade uma ideia sobre o exercício do direito/dever de votar que clama por uma mudança de paradigma. Esta mudança é urgente e não pode, por isso, ser mais adiada. No entanto, e para que não restem dúvidas, o candidato Marcelo Rebelo de Sousa, que mereceu a confiança de 60,7% dos eleitores votantes, é o Presidente de todos os Portugueses. Não só dos que votaram nele e foram mais de 2 milhões e 500 mil; mas também dos eleitores que, como eu, votaram num dos outros 6 candidatos e, ainda, de todos aqueles que, infelizmente, representam a maioria e que optaram por não participar. Por isso, democraticamente, saúdo o Presidente eleito e faço votos para que contribua, sem mediatismos bacocos, para um Portugal menos assimétrico e, consequentemente, mais justo e solidário.
II
A noite eleitoral confirmou um cenário que, praticamente, todas as sondagens e demais estudos de opinião apontavam: o crescimento galopante de André Ventura/Partido Chega. Este crescimento, traduzido em cerca de meio milhão de votos (11,9%), quando nas legislativas de 2019 tinha obtido aproximadamente 68 mil votos (1,29%), convoca toda a sociedade a uma profunda reflexão. O “elefante” está no meio da sala. E ninguém pode fazer de conta que não o está a ver. Ou pior ainda, que não o quer ver. O voto em André Ventura, na ordem de grandeza obtida, não terá seguramente uma única leitura. Quem votou em Lisboa não o fez, seguramente, pela mesma razão do votante no Alentejo, Algarve ou nos Açores. Tal como não ajuda nada, antes pelo contrário, confinar a votação em André Ventura a uma fação saudosista de tempos que se espera não voltem mais. Ou ainda assistir a um “tsunami” em distritos historicamente de esquerda, inclusivamente com predomínio da esquerda radical, e atirar a questão para lutas exclusivas da direita político-partidária. Gostava muito de ter uma resposta clara e objetiva para não só explicar este “fenómeno” Ventura, mas principalmente a solução rápida e eficaz para o combate ao mesmo. Como não tenho, resta-me dizer o que parece óbvio… ainda que não seja unânime entre os opositores ao “aventureirismo”. Neste sentido, julgo que estamos perante um combate que convoca todos os democratas a virem a jogo. Neste desafio não pode haver lugar a faltas de comparência. Ninguém, como aconteceu nestas eleições presidenciais, pode assobiar para o lado. O combate a populismos, extremismos, demagogia e muita mentira faz-se com políticos normais, que habitam no mundo real, que falam a verdade e nunca se escondem perante qualquer dificuldade e, acima de tudo, com políticas assertivas e respostas concretas aos inúmeros problemas que afetam o país. Cada problema que não tenha resposta em tempo útil; cada caso mal explicado; ou cada tiro no pé é um contributo para “insuflar o elefante”. Depois não se admirem da dimensão da bancada na próxima legislatura…