Não cometemos o erro de confundir todos os eleitores do partido político Chega com os seus dirigentes.
Na política, como na vida, as generalizações são quase sempre erradas e falaciosas.
Certamente que todos os que entendem votar neste partido político e no André Ventura não partilham da boçalidade do próprio e dos dirigentes do seu partido.
A reflexão que se impõe é porque razão estas pessoas tiveram esta opção de voto.
Da mesma forma que não concordamos com as teorias sobre a não aceitação ou ilegalização deste partido político.
Fazê-lo é, na nossa perspetiva, um grande erro e um excelente contributo para o seu crescimento.
André Ventura e o Chega tiveram votos e elegeram deputados na Assembleia da República e na Assembleia Legislativa dos Açores.
Isso não pode ser desvalorizado. Tem é de ser percebido e originar as respostas adequadas dos verdadeiros democratas, para que esses eleitores tenham os mecanismos necessários para entender o perigo de projectos políticos desta estirpe, divisionistas, segregacionistas e sectários, que não têm nem procuram ter soluções sérias e exequíveis para aumentar a qualidade de vida das pessoas. Porque, de facto, não as têm.
Querem é dizer umas coisas que as pessoas gostam de ouvir e fazer afirmações polémicas, na estratégia de "fale-se bem ou fale-se mal, não interessa, o que interessa é que se fale".
E nestes tempos, em que a política é dominada por tweets, posts e memes no Facebook, vídeos virais e tiradas instantâneas em que alegadamente "se dizem as verdades", é por demais evidente a grande importância da moderação, da defesa dos valores democráticos, da tolerância e da densidade política, em que as politicas públicas que consubstanciam as melhores soluções para os problemas das pessoas, nas suas diversas dimensões, não podem ser abordadas superficialmente no "berreiro" das redes sociais, mas têm de ser abordadas com profundidade, com preparação e com verdadeiro conhecimento sobre o que está em causa.
Nos Açores, o Chega tem hoje expressão política prática. Com dois deputados eleitos, garante a maioria parlamentar que apoia o actual Governo Regional PSD, CDS, PPM.
Além do extremismo e das boçalidades neofascistas que os seus dirigentes propagam, este partido politico e o seu líder é nacionalista e, por isso, contra as autonomias regionais, defende a privatização do serviço de saúde onde quem pode pagar é que tem acesso à saúde, defende o fim da escola pública, é contra o reforço dos poderes da Região na gestão do Mar dos Açores, é contra as políticas sociais que protegem os mais vulneráveis e contra as prestações sociais de apoio a quem se confronta com dificuldades a determinada altura da sua vida.
Estamos certos que muitos dos que votam no partido político Chega não concordam com isto. E sabendo disto, deixarão de votar no Chega.
É por isso que não queremos que André Ventura se demita. Queremos que fique. Para que seja confrontado, com as suas contradições e impreparações, à semelhança do que se passa com os dirigentes do Chega Açores.
É na Democracia que os dirigentes destes movimentos extremistas, populistas e divisionistas surgem e tentam afirmar-se, usando-a e tentando condicioná-la e enfraquecê-la, mas é através da Democracia que devem ser combatidos, confrontados e desmascarados.
Sem temores ou encolhimentos...
E na minha terra, os toiros pegam-se de frente...