Opinião

Não sendo a receita...

Receitas procuram-se. Ansiamos sedentos por aquela receita, por aquela vacina, capaz de tudo saldar. Da tal poção mágica que nos deixe imbatíveis, imbatíveis aos males e imbatíveis a tudo. Sem mais. Procura-se a fórmula. E como em tudo na vida, também no ensino se procura a receita (há séculos, diria eu), se procura a tal fórmula, sem folga de errar. Isto porque, afinal de contas e apesar de tudo, de toda a tragédia, sempre me está a parecer mais fácil a eficácia de uma vacina para a pandemia do que a tal fórmula que nos vacine para o insucesso na aprendizagem. Com a catástrofe que no mundo se passa, o desejo é profundo de não estar enganado. Mas então adiante. Dizia eu que se procura, que se anseia a vacina para o insucesso escolar, a receita da fórmula que, bem injetada, nos garanta esses mínimos, que nos deixem imunes... Não está fácil. Mesmo. Mas não desistamos. Já estivemos mais longe, ainda que indesejavelmente longe nos mantenhamos. De qualquer modo, e com muito atrevimento da minha parte - convencimento mesmo, com tudo o que de negativo possa isso trazer para a minha pessoa -, arrisco uma opinião. E então aqui vai. Mas já avisando, não é mesmo a receita. E também não prescrição. É mais o caminho em que creio, hoje, podendo amanhã sempre olhar de outro modo. Retomando. Voltando outra vez, 'cá vai!: (e agora que o escrevo, é mesmo a verdade de Monsieur La Palisse!...) garantido o indispensável bem-estar psicomotor do aluno, que traduzido "por miúdos" acabará por corresponder ao bem-estar familiar, avanço eu, não há mesmo estratégia nem projeto de real sucesso para a aprendizagem que não passe, inequivocamente, pelo acompanhamento personalizado do estudante. O que nem é bem o mesmo de acompanhamento individualizado do estudante, salvaguardo. É que, este último, conduz-nos mais a um entendimento de acompanhamento em exclusividade, o que não ficando arredado, por princípio, não será bem por aí que vislumbro a convicção. Personalizado leva-nos a um entendimento de que, apesar das semelhanças, também todos somos diferentes, o que me parece obviamente virtuoso. Diferentes no ser e no estar, diferentes nos ritmos e nas visões, diferentes nas emoções e anseios. Entendamos que cada aluno é não só a todos os outros igual como a todos os outros diferente. E naquilo em que, na verdade, diferente ele for, não há que o olhar de imediato como errado. Isso sim é errado. Olhemo-lo sim, mas na exata medida daquilo que ele é mesmo - diferente. Personalizemos. Personalizemos o ensino/aprendizagem, cada vez mais e sempre e tanto quanto possível. E que avisão do massivo, baluarte de uma era denominada de industrial, pois que cada vez mais se vá perdendo de vista, é o meu anseio, bem lá atrás...Bom, e como é evidente, nada disto inventei e muito menos agora. Está dito e redito e voltado a dizer-se. Mas é nisto em que eu creio como sendo o caminho, não sendo a receita, como é também evidente. E partindo daqui, que se lancem projetos e que se tracem estratégias... mas sem muito papel. Que se apoie o professor a apoiar o aluno e que se apoie o aluno sem perseguição. Que a ambos se apoie, mas com compreensão. Receitas procuram-se, mas sem muito papel.