Opinião

Variantes

A Pandemia provocada pelo vírus SARS-CoV-2 assola-nos há cerca de um ano. Ao longo deste ano foram identificadas diversas variantes deste novo coronavírus. Nadhim Zahawi, responsável pelo processo de vacinação no Reino Unido, afirmou há poucos dias à Sky News que são cerca de 4000 as variantes identificadas até ao momento. Correspondem a estirpes do vírus com mutações, sendo que, pese embora o número elevado de casos, apenas uma minoria dessas mutações será capaz de alterar o vírus de modo a influir apreciavelmente no seu comportamento e consequentemente no seu impacto. De entre estas as que prendem maior atenção são as estirpes do Reino Unido, Califórnia, África do Sul e Brasil.
Identificadas estas variantes, os laboratórios estão neste momento a trabalhar para melhorar as vacinas que produzem, de modo a assegurar a sua eficácia contra qualquer uma das variantes.
A mais preocupante atualmente é a estirpe descoberta inicialmente na África do Sul. Das vacinas existentes, estudos realizados relativamente à resposta das vacinas demonstram que a eficácia das mesmas para proteger desta estirpe é menor, como foi evidenciado há poucos dias pelo jornal britânico Financial Times ao divulgar um estudo feito pelas universidades de Witwatersrand e de Oxford.
Na Região Autónoma dos Açores temos três casos diagnosticados da variante do Reino Unido.
As vacinas têm demonstrado uma resposta eficaz a esta variante, situação diferente no caso sul-africano, onde em território continental foram identificados, até ao momento, dois casos.
As mutações são uma característica intrínseca dos vírus. Fazem parte da sua evolução natural à medida que se replicam para se disseminarem e prosperarem. Maioria delas pode ser irrelevante, contudo, algumas podem inclusive ser nocivas à própria sobrevivência do vírus, ao passo que outras podem torná-lo mais infecioso ou prejudiciais para o hospedeiro.
Ao que tudo indica surgirão mais variantes e, por isso, por todo o mundo procura-se acelerar o processo de descoberta e sequenciação genética, bem como de melhoria das vacinas, enquanto se procura acelerar o processo de vacinação e se reforçam as medidas de controlo da Pandemia.
Contudo, não é só o vírus SARS-CoV-2 que tem variantes.
Como referi anteriormente, na Região temos três casos da nova variante do Reino Unido.
Mas temos outras variantes...
O Plano Regional de Vacinação tem uma nova variante.
Assinado pelo Diretor Regional da Saúde, ainda Autoridade de Saúde Regional, no dia 29 de dezembro, homologado pelo Secretário Regional da Saúde e Desporto a 30 de dezembro, foi publicado dias depois do processo de vacinação ter arrancado na Região.
Isto corrobora uma afirmação do Sr. Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo que refere que aquando do início da vacinação na Região não existiam orientações.
O problema terá residido nas "sobras". Perante as evidências de irregularidades no processo, disse o Secretário Regional da Saúde que existirá uma lista de "sobras" ou "suplentes", para aplicar a terminologia utilizada.
Que esta lista à semelhança do Plano Regional de Vacinação, não venha a ser divulgada à posteriori e venha aprofundar a vala por onde anda a tão autoproclamada transparência...
Todos sabiam que iriam sobrar doses. Os profissionais de saúde já se haviam questionado sobre o que fazer com as mesmas. Ninguém se lembrou atempadamente de as utilizar em pessoas elegíveis dentro da fase em curso respeitando a ordem de prioridades?
E isto leva-nos para uma outra variante.
As notícias relativas às irregularidades nos Açores relativamente ao processo de vacinação surgiram na comunicação social nacional, exceção feita ao Diário Insular que levantou a ponta do véu.
No entanto, a opinião geral na comunicação social regional apontava o dedo a território Continental. Que lá é que era vergonhoso.
Mas comparando o número de vacinas disponibilizadas e o número de irregularidades detetadas... a vergonha, em bom rigor, deve ser geral.
A verdade é que parece que por cá tudo é permitido e desculpável.
Um outro trabalho realizado pela comunicação social continental foi rotulado com "falta de isenção", de "qualidade" e como sendo de... "pacotilha".
São estas algumas das novas variantes desta Pandemia.
Cabe-nos a todos testar, diagnosticar, isolar e... curar.