Ontem pensava em escrever sobre Cultura e Carnaval. Sobre as minhas memórias e sobre o momento que se vive.
Mas, ontem de manhã fui confrontada com uma realidade que se sobrepõe. Uma vida roubada a esta nossa vida. Uma vida com nome e com história. Uma história que se cruza com a minha em muitos momentos e que se afasta em muitos outros. Uma vida que não teve nada de fácil. Uma vida de luta. De luta até ao fim.
Sobre esta vida não se escreverão livros. Na verdade, para muitos não passará de mais uma mulher com um percurso de vida que, para muitos, infelizmente cada vez mais, dá lugar a juízos de valor carregados de preconceitos.
Como muitos, lutou para ter uma família, uma casa, um trabalho. Tudo perdeu, mas nunca desistiu (ou terá desistido muitas vezes sem que eu soubesse). Reergueu a sua vida. Casa, trabalho e família. Nunca viveu um conto de fadas, mas será que alguém vive?
De há um ano para cá, uma nova luta. Uma luta desigual. Um problema oncológico grave. Não desistiu, mas não venceu.
E nesta fase contou com o apoio inexcedível das suas irmãs e do seu companheiro, os tais cuidadores informais sobre os quais escrevi a semana passada, e do Serviço Regional de Saúde, mais concretamente do Serviço de Oncologia do Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira.
E esta história fez-me lembrar que, há certa de 4 anos, tive o gosto de conhecer o Professor Constantino Sakellarides que tem muito trabalho produzido nas áreas da Educação para a Saúde, Literacia e Autocuidados. Um verdadeiro apaixonado por estas matérias e que nos sensibilizou para a importância de considerar esta temática na Estratégia Regional de Combate à Pobreza e Exclusão Social. Assim o fizemos, mas ficamos aquém.
A nível nacional foi decidido e desenhado em 2016 o Programa Nacional de Educação para a Saúde, Literacia e Autocuidados, que, entre outros objetivos, visa: a) Contribuir para a melhoria da educação para a saúde, literacia e autocuidados da população, promovendo a cidadania em saúde, tornando as pessoas mais autónomas e responsáveis em relação à sua saúde, à saúde dos que deles dependem e à da sua comunidade; b) Promover um amplo acesso de todos os interessados a informação qualificada sobre boas práticas em educação para saúde, literacia e autocuidados.
De entre os vários projetos previstos no âmbito do referido Programa destaco:
- Envelhecimento, autocuidados e cuidadores informais: destina -se a desenvolver técnicas de promoção de literacia em saúde em ambiente residencial (domicílios, instituições para pessoas dependentes) para pessoas idosas e seus cuidadores informais.
- Ajudar as pessoas a conhecer melhor os serviços de saúde, de forma a utilizá-los mais eficaz e eficientemente. Para o efeito foram selecionados três temas: saúde reprodutiva; doença oncológica e testamento vital.
A implementação de programas desta natureza é fundamental nos Açores para preparar e apoiar os prestadores informais em cuidados domiciliários, e também para a prevenção da doença, designadamente da diabetes e obesidade, e para a promoção da saúde nomeadamente da saúde mental.
Literacia em Saúde precisa-se. Precisa-se de"...literacia em Saúde, entendida como a capacidade para tomar decisões informadas sobre a saúde, na vida de todos os dias, e também naquilo que diz respeito ao desenvolvimento do Sistema de Saúde, na medida em que contém elementos essenciais do processo educativo e proporciona capacidades indispensáveis para o autocuidado...".