A vida interna dos partidos políticos diz, em primeira instância, respeito aos militantes e dirigentes desse partido.
Mas isso tem particular relevância quando essa dinâmica interna pode ter impactos nas políticas públicas a desenvolver, sobretudo quando está em causa um partido político que lidera uma coligação de governo, como é o caso do PSD Açores.
O livre exercício de militância e de participação cívica e política dizem respeito a cada um, mas isso não pode pôr em causa ou condicionar questões mais relevantes e importantes como é o caso de um Órgão de Governo Próprio Regional como o Governo Regional.
Ora, soubemos há poucos dias que são candidatos à liderança da Comissão Política da Ilha Terceira do Partido Social Democrata o Secretário Regional da Agricultura António Ventura e o Secretário Regional da Saúde Clélio Meneses.
Ou seja, dois membros do Governo Regional avançam um contra o outro para a liderança de uma estrutura partidária.
Se isso, por si só, já é um facto político relevante, mais relevante é pela forma e pelos termos em que cada um anunciou a sua vontade.
Clélio Meneses refere, entre outras coisas, que é candidato para "dar saúde e liberdade ao PSD Terceira e para unir e agregar o Partido". Daqui pressupõe-se que o Secretário da Saúde acha que o PSD Terceira está doente, está dividido e não tem liberdade e que o responsável por isso é o seu colega de governo o Secretário Regional da Agricultura. Diz ainda que "é candidato mas caso surja uma terceira candidatura que sirva para unir o Partido, está disponível para desistir". Ou seja, para Clélio Meneses, pode ser qualquer um, menos António Ventura!
Quanto a António Ventura diz-se surpreendido com o anúncio da candidatura do colega de governo e afirma que "não consigo perceber, parece que o lugar ficou apetecível agora. Gostava era de saber onde é que estiveram essas pessoas a trabalhar para o PSD no último ato eleitoral".
Independentemente do que venha a acontecer, este episódio tem grande relevância política. Fere, de morte, a coesão do governo, põe em causa a clarividência destes protagonistas políticos para as decisões a tomar no Conselho de Governo e evidencia a utilização dos cargos governativos que ocupam para desenvolver a sua agenda partidária.
Além disso, denota a falta de autoridade do Presidente do Governo e Presidente do PSD Açores José Manuel Bolieiro, que não se deu ao respeito e não teve a capacidade de exaltar junto dos membros do seu Governo a importância da coesão, de sentido de estado e de institucionalismo quando está em causa a governação e o que isso representa para os Açores e para os Açorianos.
É só mais um episódio que permite relembrar a certeira afirmação do Deputado Paulo Estevão quando na campanha eleitoral do passado mês de Outubro afirmava que "José Manuel Bolieiro não reúne as condições para liderar um Governo dos Açores. Bolieiro não tem, do ponto de vista pessoal, as condições para desempenhar essas funções."