Opinião

Polarização

Vivemos tempos de polarização. Não só por causa da pandemia, suas medidas e seus efeitos, que significaram grandes mudanças no nosso quotidiano, também aqui com diferenças e polarizações várias. Se é verdade, como muitos sempre vão lembrando, que afinal não estamos todos no mesmo barco pandémico, quando muito no mesmo mar. Com situações diferentes e consequências diversas. É óbvio que houve atividades e formas de trabalho mais afetadas do que outras, bem como sectores económicos, com os inevitáveis reflexos sociais. A este respeito, as declarações recentes de uma especialista acerca dos burgueses do teletrabalho é bem significativa de diferenças entre alguns quadros, sobretudo da função pública, e as profissões ditas essenciais neste contexto, que vão desde o pessoal de saúde aos trabalhadores do lixo. É claro que, neste caso, a expressão usada tem a virtude e o defeito da provocação, e entre os "burgueses" há situações absolutamente díspares!
Mas a polarização, com tendência para extremismos maniqueístas vem de trás, tem a ver com a irrupção no espaço público dos media sociais, dum discurso menos racional e dum simulacro de democratização da palavra e de larvares formas de poder, que urge racionalização e comporta novos perigos.
Se, por um lado, tais manifestações têm a virtude de permitir uma crítica saudável, em que não há vacas sagradas, a forma simplificada, pouco fundamentada e inevitavelmente julgadora - comporta os seus perigos. Inclusivé para o clássico jornalismo de edição, que sofre múltiplas consequências, a começar pela pirataria, e sente a inevitável tentação de ir na onda e facilitar o direto, o sensacional, no campeonato das audiências, científica e permanentemente medidas.
Novos tempos, que não dispensam as regras da mediação qualificada, da representação política e das garantias da separação de poderes...