Soubemos esta semana que António Ventura já não será recandidato à coordenação do PSD Terceira, depois de anunciar há poucos dias que o era. E que Clélio Meneses também já não será candidato. Em boa verdade, este sempre soube que não o seria, o seu único propósito em afirmar-se como candidato a candidato era derrubar António Ventura. E conseguiu.
Reiteramos o que já afirmámos. A vida interna dos partidos políticos diz, em primeira instância, respeito aos militantes e dirigentes desse partido.
Mas isso tem particular relevância quando essa dinâmica interna pode ter impactos nas políticas públicas a desenvolver, sobretudo quando estão em causa dois membros do governo e um partido político que lidera uma coligação de governo, como é o caso do PSD Açores.
O livre exercício de militância e de participação cívica e política dizem respeito a cada um e cada militante tem a legitimidade de se candidatar ao que entender, mas uma disputa partidária entre dois membros do governo põe em causa e condiciona valores mais importantes que devem estar na base da acção de um Órgão de Governo Próprio como é o Governo Regional.
E a verdade é que este episódio fere, de morte, a coesão do Governo Regional e abala muito a sua credibilidade e a dos envolvidos nesta disputa.
O confronto permanente entre o Secretário Regional da Saúde e o Secretário Regional da Agricultura não começou agora, nem terminará agora. Pelo contrário.
Recorde-se os termos utilizados publicamente pelos próprios há poucos dias, sobre este assunto.
Clélio Meneses referiu, entre outras coisas, que era candidato para "dar saúde e liberdade ao PSD Terceira e para unir e agregar o Partido". Daqui pressupõe-se que o Secretário da Saúde acha que o PSD Terceira está doente, está dividido e não tem liberdade e que o responsável por isso é o seu colega de governo o Secretário Regional da Agricultura. Disse ainda que "era candidato mas caso surgisse uma terceira candidatura que sirva para unir o Partido, estaria disponível para desistir". Ou seja, para Clélio Meneses, pode ser qualquer um, menos António Ventura! E até arriscamos que, ao fazer estas afirmações, não só já sabia que não seria candidato, como sabia que já estava a ser definida a tal terceira candidatura.
Quanto a António Ventura afirmou estar surpreendido com o anúncio da candidatura do colega de governo e afirmou "não consigo perceber, parece que o lugar ficou apetecível agora. Gostava era de saber onde é que estiveram essas pessoas a trabalhar para o PSD no último ato eleitoral".
António Ventura é, assim, derrotado em toda a linha. Caiu na armadilha que o seu colega de governo montou e foi derrubado da liderança do PSD Terceira, num processo que teve o envolvimento directo do Presidente do PSD Açores e Presidente do Governo. Na tentativa de resolver um problema e apaziguar os diferendos insanáveis entre dois Secretários Regionais, José Manuel Bolieiro acabou por ratificar e subscrever tudo o que os detratores de António Ventura defendem.
Ou seja, ao validar uma nova liderança e o afastamento de António Ventura, José Manuel Bolieiro também acha que o Partido Social Democrata da Ilha Terceira está doente, está dividido e que não tem liberdade e o responsável por isso é o seu ainda Secretário Regional da Agricultura.
Quanto à futura nova coordenação do PSD Terceira, o velho PPD está de volta...e isso não é bom...