As eleições autárquicas estão aí ao virar da esquina. A data concreta ainda não é conhecida, mas é seguro dizer que faltam pouco mais de 180 dias para o ato eleitoral mais participativo da democracia em Portugal. Contudo, é bom recordar que também nas eleições para as autarquias a taxa de abstenção tem vindo, infelizmente, a acompanhar a tendência de crescimento verificada nas demais eleições. Infelizmente, longe vão os tempos da abstenção a cifrar-se nos 28% (1982). No último sufrágio, ocorrido em 2017, a taxa geral de abstenção atingiu uns preocupantes 45%. Em Ponta Delgada, 54% dos eleitores deram falta de comparência! E é sobre a maior cidade Açoriana que diz respeito a pergunta que dá título a este texto. A Câmara de Ponta Delgada, à exceção do mandato 1989-1993 em que os eleitores deram a vitória à coligação PS-CDS, foi sempre liderada pelo PSD. São, portanto, quase 28 anos consecutivos na liderança do município de Ponta Delgada. Este facto histórico deve, ou deveria estar, na mesa dos responsáveis pela estratégia dos partidos de esquerda que almejam (?) conquistar o poder em Ponta Delgada. Fará sentido o PS ir a votos sozinho? Isso não será repetir a “tática” pós 1989 e esperar um resultado diferente? Qual o problema de desenvolver esforços para criar uma plataforma pré-eleitoral de esquerda? Não haverá valores e ideias comuns entre as diferentes esquerdas? O PS, o BE, o PAN, o PCP e o Livre, que foram a votos isoladamente nas autárquicas de 2017, não terão o mesmo objetivo nas autárquicas de setembro/outubro próximo? Todos estes partidos não têm uma matriz humanista e progressista? Não quererão todos o melhor para Ponta Delgada? Não quererão todos mais e melhores respostas sociais? Não quererão todos melhor educação? Não quererão todos mais sustentabilidade ambiental? Não quererão todos mais respostas culturais? Não quererão todos mais respostas que fomentem a prática desportiva? Não quererão todos mais e melhores serviços públicos municipais? Não quererão todos maior justiça fiscal? Não quererão todos um tecido empresarial maior e mais robusto? Não quererão todos fomentar a proximidade entre eleitos e eleitores? Como julgo que a resposta é igual a todas as perguntas que aqui deixo, resta fazer a perguntar para “um milhão de euros”: então, porque não se entendem? Não sei a resposta; não sei se esta possibilidade que lanço com o objetivo de provocar discussão está a ser cogitada, mas temo que cada um, egoisticamente, continue a caminhar a solo. Essa caminhada, dificilmente, os irá levar a algum lado diferente daquele onde andam há quase 28 anos. As opções são sempre legítimas. Quaisquer que sejam. Mesmo aquelas que para mim, à nascença, estão votadas ao fracasso. De qualquer forma, a palavra final relativamente a essas tais opções compete – sempre! – ao eleitorado. É da contagem dos votos que sai a “sentença” que dita o rumo dos 4 anos seguintes. O eleitor de Ponta Delgada tem dito, consecutivamente, o que quer e o que não quer. É, pois, preciso fazer diferente. É preciso mudar estratégias. É preciso não ter receio de fazer o que há muito não é feito. Para tal, importa ter presente que uma eventual coligação de esquerda não visa retirar ninguém de cena, nem muito menos tornar de uns bandeiras que são de outros. Uma coligação, feita com o propósito certo, serviria para congregar esforços em prol do desenvolvimento de Ponta Delgada. E a verdade é que Ponta Delgada merece uma alternativa de Esquerda…