Opinião

Que tal nos questionarmos não sobre 1 dia, o 8 de março, mas sim sobre os 364 dias?

Quem, homem ou mulher, e a partir de que dia, terá a coragem de dizer e agir perante tanta desigualdade que nos rodeia?

Quem, homem ou mulher, e a partir de que dia, estranhará que as rádios, jornais e televisão tenham, esmagadoramente, comentadores?

Quem, homem ou mulher, e a partir de que dia, questionará os políticos e as políticas que nomeiam, maioritariamente, homens para o seu gabinete, e, pomposamente, assinalam o 8 de março?

Quem, homem ou mulher, e a partir de que dia, confrontará as direções partidárias que escolhem homens para, dominantemente, liderarem projetos políticos?

Quem, homem ou mulher, e a partir de que dia, assumirá as responsabilidades parentais como parte de uma educação para uma igualdade de oportunidades?

Quem, homem ou mulher, e a partir de que dia, reconhecerá que a partilha de tarefas domésticas é um dever comum e não um dever solitário?

Quem, homem ou mulher, e a partir de que dia, dirá que estranha e injusta é esta imensa desigualdade?

Quem, homem ou mulher, e a partir de que dia, assumirá a igualdade de oportunidades como um dever coletivo e sem bengalas legislativas?

Que mulheres e para que dia estarão sem culpa pelos momentos de ausência?

Que mulheres e para que dia não permitirão que o seu género defina as suas competências?

Que mulheres e para que dia avançarão sem que a sua voz possa colocar em causa o lugar que ocupam ou uma esperada promoção?

Que mulheres e para que dia dirão não aos lugares de decoração das listas partidárias e de órgãos deliberativos?

Que mulheres e para que dia dirão não a um salário diferente em condições laborais iguais?

Que mulheres e para que dia fortalecerão a união entre elas, sem abismos, nem esconderijos?

Que mulheres e para que dia, na presença de competências académicas e sociais semelhantes ou até superiores, levantarão a sua voz face às maioritárias nomeações de homens?

Para quando, para quando, e que mulheres e que mulheres! O combate à desigualdade de oportunidades é de todos! Porém, importa nunca esquecer o enorme contributo que cabe a cada mulher nesta luta.

Se este texto fosse escrito antes do ano de 2010 acrescentaria tantas mais questões. Hoje o número de interrogações é menor, mas é ainda elevado face aos modelos sociais, políticos e económicos, que deveriam privilegiar a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres.

É assim, na presença de um ecossistema económico e social inovador, (e não, a pandemia não justifica! A desigualdade de oportunidades entre homens e mulheres dura há mais tempo que esta pandemia. É já do tempo de outras pandemias), que as igualdades de oportunidades entre homens e mulheres é um dos maiores fracassos sociais e económicos deste século.

Celebre-se o dia 8 de março, que tem todo o sentido, como o imenso sentido da palavra desigualdade entranhada nas imensas opções conscientes e inconscientes de homens e mulheres em todos os dias do ano.