Opinião

"Governo Regional... we have a problem."

Penso que muitos reconhecerão a célebre frase que intitula este artigo. É, na maioria das vezes, erradamente atribuída ao astronauta Jim Lovell. Digo erradamente porque terá sido dita por outro astronauta que fazia parte da tripulação, nomeadamente, Jack Swigert, durante a viagem da Apollo 13 à Lua a 11 de abril de 1970.
Após ouvir um estranho ruído, a tripulação descobriu que um dos tanques de oxigénio tinha explodido, tendo sido aí que Jack Swigert avisou a base, em Houston, sobre o problema. Contudo, como houve uma falha na comunicação, o comandante Jim Lovell teve de repetir o alerta e acabou por ficar conhecido como o autor da frase.
No entanto, o curioso é que a frase original era "Houston, we've had a problem here" (Houston, nós tivemos um problema aqui). Mas na produção cinematográfica considerou-se que a expressão daria a entender que a falha já havia sido resolvida e então modificaram-na para que tivesse mais impacto e pudesse ser utilizada em outras ocasiões.
E falando sobre falhas na comunicação temos, infelizmente, como exemplo, o Governo Regional.
A comunicação do Governo Regional é desastrosa e quando o afirmo já replico o que é publicamente dito por, supostamente, gente entendida.
A falha na comunicação que abrange todos os níveis da governação deste executivo e que atingiu o seu pico com a abolição dos comunicados do Conselho do Governo, assume especial proporção e significado no que concerne à saúde atendendo a que temos ainda um longo caminho a percorrer decorrente dos impactos da COVID-19.
À falta de rigor, de clareza e de transparência nas comunicações realizadas a propósito da Pandemia, junta-se a opacidade no que concerne ao processo de vacinação e, mais recentemente, a omissão no que diz respeito à existência de 16 casos de novas estirpes do vírus SARS-CoV-2 diagnosticadas na Região.
Na Região registaram-se mais de 800 casos positivos de COVID-19 na faixa etária compreendida até aos 19 anos de idade.
Sabemos que em território continental várias crianças e jovens necessitaram de internamento na sequência do diagnóstico da Síndrome Inflamatória Multissistémica, também conhecida como Síndrome Pós-COVID.
Inicialmente confundida com a Síndrome de Kawazaki ou a Síndrome do Choque Tóxico, a Organização Mundial da Saúde acabou por clarificar e criar essa denominação que atinge sobretudo os mais novos.
Alguns dos casos registados não haviam tido qualquer sintomatologia relacionada com COVID-19 e não tinham qualquer teste positivo realizado anteriormente, sendo apenas pela análise serológica que se percebeu que tinham tido contacto com o vírus.
Surgindo entre três a seis semanas após a infeção, os sintomas mais frequentes são a febre, dor abdominal, diarreia, vómitos e, em alguns casos, sensação de desmaio e falta de força.
E isto não se transmite por tabelas ou por gráficos.
À falta de rigor, de clareza e de transparência junta-se agora a falta de preparação e de planeamento da comunicação com a população e profissionais de saúde, verificando-se assim, que a sensibilização, pedagogia e a elaboração de guias propalados no início de funções deste executivo não passaram de mera intenção. Isto assume outras proporções quando depois se procura atribuir as responsabilidades do infortúnio a todos menos aos próprios, quando se induz responsabilidade ao comum cidadão por ter ignorado sintomas...
É caso para dizer: Governo Regional... temos um problema.