Ao longo dos últimos anos, muito foi dito a propósito da credibilidade (ou, no dizer dos ditos, da falta dela) dos dados estatísticos oficiais produzidos nos Açores, pelo Serviço Regional de Estatística. Tanto foi dito que houve e há quem defenda a criação de uma entidade estatística independente que assegure produção estatística autónoma, com o argumento de que só assim estaria assegurada a fiabilidade dos dados disponibilizados.
Naturalmente, na base deste entendimento estava a desconfiança, bastas vezes expressa, sobre a interferência/ingerência dos responsáveis políticos nesse serviço.
Quem o afirmava punha em causa que estivessem assegurados os princípios do Código de Conduta das Estatísticas Europeias, que definem que as estatísticas oficiais devem ser precisas, fiáveis, consistentes e comparáveis entre regiões e países.
Não foram precisos 100 dias para chegar à conclusão que aqueles que defendiam a autonomia do Serviço ainda não a concretizaram (dir-me-ão que é já a seguir) e também não foram precisos 100 dias para fazer cair a máscara da transparência e credibilidade.
Os mesmos que criticavam, são incapazes de assegurar estatísticas oficiais divulgadas de um modo adequado e apresentadas de forma clara e compreensível para o utilizador comum. Ao contrário, apresentam dados incongruentes, gralhas e omissões nos dados mais recentemente divulgados.
Importa perceber qual a razão que levou o Serviço Regional de Estatística dos Açores (SREA) a decidir que as estatísticas regionais passem a ser divulgadas sem a comparação com as outras regiões do país e com a média nacional. Estranho, não vos parece?
Importa também perceber porquê o Boletim Trimestral do SREA, que é realizado há 80 trimestres, deixou, na sua edição mais recente - referente ao 4º trimestre de 2020, publicado no dia 15 de fevereiro - de apresentar, como era habitual, a comparação dos diversos indicadores com a média do país e, tratando-se do último trimestre do ano, também não fez a correspondente análise anual. Curioso, não vos parece?
E quanto a divergências, por exemplo, a produção de leite para consumo diminuiu 1,1%, como consta na página 1, ou quase 5 vezes mais (-5,3%) como está no texto da página 8? A diminuição da produção de queijo foi de 10,4%, como está na página 8, ou foi aproximadamente metade desse valor (-4,7%) como mostra o quadro da página 1?
É caso para dizer que a produção de leite cai ao virar da página...
Relembro apenas que segundo o artigo 8.º da Lei do Sistema Estatístico Nacional, as estatísticas oficiais são consideradas um bem público, devendo satisfazer as necessidades dos utilizadores de forma eficiente e a sua disponibilização deve ser efetuada de forma integrada e objetiva.
Se no caso das divergências pode tratar-se de falta de cuidado na preparação e revisão das ditas estatísticas oficiais que se querem credíveis, no primeiro caso, da omissão das comparações com as demais regiões e o todo nacional, há uma lamentável intenção política, esta sim muito transparente.
Mas, a verdade é que nada disto é novidade. Também não foram precisos 100 dias para que, com origem na mesma fonte, já tivéssemos ouvido declarações muito infelizes e pouco credíveis sobre o processo da SATA e, mais recentemente, afirmações muito pouco precisas e transparentes sobre os valores e processo negocial da bazuca.
Transparente e credível? ... Só que não!