Há dois dias que não durmo. Sempre a pensar no teleférico para o Pico. Uau! Já me imagino por ali acima e sem mexer uma palha. A chegar ao cume e a fazer umas selfie's, de bandeirinha, qual alpinista no Everest! Isso é que era. Eu acho mesmo que até o próprio Everest teria muito a ganhar, também. Não se pisaria tanto o gelo e muito mais gente significaria muito mais dinheirinho. É que, em abono da verdade, essa coisa de subir uma montanha a pé é já coisa um bocadinho desatualizada, diga-se de passagem. Eu diria muito desatualizada. Existem meios de transporte que facilmente nos levam do ponto A ao ponto B, e portanto, pessoal, anda tudo a dormir ó quê?! Noutro tempo, tempos idos, era giro, ninguém conseguia ir lá acima e era um herói aquele que o fizesse. Agora, desculpem lá, isso resolve-se hoje sem muito cansaço, sem correr riscos de saúde, poupa-se a natureza e tiram-se as fotozinhas todas que se quiserem tirar. É mesmo. E depois lembrei-me da Terceira, esta ilha também fantástica. Há mais ideias que, aceleradamente, se me foram atravessando a mente, assim enquanto acordado e mais ou menos a dormir. Ninguém se lembrou de um elevador no Algar do Carvão? Também dava! Era só fazer notinhas e ninguém estragava os líquenes. Também tive outra ideia: e a Serra de Santa Bárbara?! Também dava, o teleférico! Até podia nem ser bem um teleférico, mas do género, sei lá, umas daquelas mochilas voadoras que já existiam nos jogos olímpicos de Los Angels... Que tal, a ideia? Os Americanos iam gostar, de certeza, e assim talvez até voltassem atrás na decisão de encerrar a BA4... nunca se sabe. E os dólares iam ser muitos, pessoal. Agora que eu já dei montes e montes de ideias aqui para o turismo da Terceira, pode-se então encomendar o estudo. Não há que enganar, mas convém um estudo para que também não fique a parecer que são ideias estapafúrdias, sem qualquer espécie de sustentação no que respeita à sustentabilidade...
Ok...vou parar com a brincadeirinha. É perigoso continuar com isto. É que, pelos vistos, há mesmo gente para tudo. E ainda pensam que é a sério. Então por dinheirinho, meus amigos, não há mesmo mais nada que resista. É que depois, há ainda outra coisa: mesmo para quem defenda isto, ideias do estilo do teleférico no Pico, sendo alguém que não tem dúvidas em colocar os lucros imediatos à frente daquilo que temos de melhor - a natureza muito pura e genuína, evitando dizer intacta - nem de negócios percebe, a meu ver, evidentemente, sem ofensa. Parece-me óbvio que o futuro do turismo de qualidade não passa, nem pouco mais ou menos, por enchentes de turistas por esses trilhos adentro, por essas serras acima ou por essas grutas abaixo. O prazer está, exatamente, no caminhar pelo trilho e depois no chegar, sim, mas percorrido o percurso e sentida a natura, em ampla harmonia. Quem vem de Paris, de Berlim ou de Nova Yorque, é isto que quer, e não teleféricos. Os Açores são isto, é esta a sua identidade de carácter vincado. Que se resista à tentação de copiar outros pontos do globo, não porque não devamos aprender com os outros, é lógico, mas porque depois de aprendermos com os outros é imperioso pararmos e então pensarmos se, realmente, é o mesmo que nos caberá cumprir ou se é diferente, por outro lado, sublinhando efetivamente o que somos. As brumas, o vento, o mar oceânico, o basalto bem negro. O Pico, o prodigioso Pico que tanto amamos.