Eu sei que são cento e poucos dias deste Governo, mas esta semana demonstrarei algumas situações que me parecem incoerentes e até contraditórias dentro Governo Regional e que demonstram, no meu entender, a falta de coordenação instalada neste Governo.
A 4 de fevereiro o atual Presidente do Governo valorizou a relação do Governo dos Açores e o Governo da República no que à disponibilização de vacinas diz respeito. Realçou o facto desta boa relação ter permitido que se iniciasse ainda em dezembro de 2020 o processo de vacinação nos Açores.
Já o Secretário Regional da Saúde e Desporto, sobre o mesmo assunto e passados só alguns dias disse, e cito: “a autonomia neste processo não tem sido bem tratada e valorizada”. Afinal em que ficamos? Confesso que achei muito estranho esse desmentido do Secretário Clélio Meneses ao próprio Presidente do Governo. E agora? Em quem devemos acreditar?
Já durante a última sessão Plenária o mesmo Secretário Clélio Meneses afirmou que a cerca sanitária em Rabo de Peixe seria sempre avaliada com base na evolução epidemiológica e, cito, “circunstanciadas com o local e com o tempo”. Confesso que me pareceu razoável, mas neste mesmo debate o atual Vice-presidente Artur Lima comprometeu-se com, e cito também, “para a semana, se Deus quiser e correr bem, será levantada a cerca em Rabo de Peixe”. Ou seja, perante aquilo que eu entendi como sendo uma atitude cautelosa do Secretário veio o Vice-presidente afirmar e comprometer-se com algo que, segundo os critérios por eles definidos, não depende da vontade de ninguém.
Chegados ao dia de ontem, 11 de março, foi levantada a cerca sanitária em Rabo de Peixe. Não foi um dia qualquer, foi no dia em que foram registados 25 casos naquela Freguesia praticamente todos da chamada estirpe inglesa e que segundo o Governo já está com transmissão comunitária em São Miguel. Para além desta incoerente decisão parece-me estranho que só agora se tenha detetado a nova estirpe numa Freguesia que esteve cercada durante largas semanas e que foi amplamente testada durante todo esse período.
Por fim uma incoerência relativamente à afirmação de que as análises epidemiológicas seriam feitas mais localmente. No dia 26 de fevereiro o Vice-presidente afirmou que se separaram os casos de Rabo de Peixe do restante Concelho para não matar a economia da Ribeira Grande. Nada mais falacioso já que o sistema de semáforos está definido por Concelhos e continuam, a partir de amanhã, medidas de alto risco para todo o Concelho da Ribeira Grande onde se inclui, por exemplo, a Freguesia da Lomba de São Pedro, que fica geograficamente mais distante do centro do seu Concelho do que por exemplo algumas freguesias do Concelho da Lagoa ou até de Ponta Delgada… Isso é coerência? Não, não é!
E mais podia dizer, mas assim vão, de incoerência em incoerência, gerindo uma pandemia nos Açores.
(Crónica escrita para Rádio)