Opinião

Para entrar no comboio da carreira docente

Há um abanão e um ranger da estrutura metálica. A carreira docente, o comboio, lentamente arrancou. Na plataforma, apeados, ficaram professores a quem lhes foi dito que com esta nova direita, ali teriam lugar. Mas ficaram na gare. Que com mais de três anos em contrato anual e completo, teriam mesmo direito, direito plasmado em diretiva europeia. Mas ficaram na gare. São eles professores que contaram, nos números, para que se abrissem as portas e existissem lugares. Mas só são professores que contaram, nos números, para que se abrissem as portas e existissem lugares. É que os lugares que eram seus, por direito europeu, para entrar no comboio, a carreira docente, foram sendo ocupados sem que as portas se abrissem. Os colegas lá dentro, que já estavam lá dentro, nos quadros das escolas, preferiram mudar. Eos lugares que eles vagaram?... Eis que as portas se abriram. Outros docentes, ainda de outros comboios, também eles na carreira, também eles de uma ilha, avançaram primeiro, também eles com direito. E assim reduzidos, os lugares da carreira.
Quimera. Trezentos e vinte e um lugares excecionalmente destinados à entrada de todos aqueles a quem isto foi prometido...demagogia, pura. Não posso calar. Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade, não é assim?!E nós, o governo, é que sabemos! Que ninguém mais se levante! É que toda e qualquer proposta que o Partido Socialista enuncie para que se torne real a ilusão, é proposta inimiga, é proposta que é má, é proposta a calar. Como é possível um não? Um não de princípio, porque é do PS? E depois, argumentos, essencialmente são três: porque nada sabemos, pois eis o primeiro, porque não tipificámos lá muito bem as situações que propusemos como sendo as únicas em que, doravante, se poderia contratar a termo certo, pois eis o segundo, e porque não pugnámos pela estabilidade pedagógica do nosso sistema, enfim pois, o terceiro. Mas que sentido isto faz? Que acertemos então! E porque não em conjunto?! E como se afirma que, a nossa proposta, é uma proposta que não pugna pela estabilidade pedagógica? Como isso é possível? Senhoras e senhores: propusemos o acerto para uma fixação dos docentes em quadros de escola, não de ilha, senhoras e senhores! Fixar um docente numa escola, e não num conjunto de escolas em simultâneo, é menos, é pior? Não é assim que se pugna pela continuidade pedagógica e estabilidade do sistema? E é então deslocando e deslocando, constantemente, um docente pelas diversas escolas de uma ilha, quando assim é possível, que é melhor? E depois as ilhas de menor dimensão? Não se irá assistir a uma fragilização desses quadros com a demanda de muitos docentes? É que não legislando com essa sensibilidade, não legislando com medidas de captação de mais docentes e sua fixação, muito em especial, nas ilhas de menor dimensão, o atual problema aprofundar-se-á, e muito, no lugar de se caminhar para a sua resolução. É colega que eu sou, meus amigos, e garanto a quem lê: desejo estar enganado.