Opinião

Pobreza

Foi recentemente publicado o estudo “Faces da pobreza em Portugal”, coordenado pelo Professor Doutor Fernando Diogo, um estudioso incansável da pobreza que, desde há muito, vem alertando para a terrível persistência deste problema estrutural do país e da Região.
Numa altura em que enfrentamos, aqui, na Europa e no mundo, uma crise profunda, de consequências que não são ainda mensuráveis e cujo fim é difícil de prever, a reflexão e o debate sobre a pobreza são, ainda, mais pertinentes e necessários. Não obstante as muitas medidas que têm sido adotadas para proteção do rendimento, do emprego e das famílias e de todo o trabalho que se fará na recuperação, há uma dimensão estrutural da pobreza da qual poderá resultar, à semelhança do que aconteceu na recuperação da crise anterior, a persistência de valores inquietantes relativos às pessoas em situação de pobreza, ultrapassada que seja a sua dimensão conjuntural.
O estudo, que reitera a existência de “uma forte relação entre a qualificação e a pobreza” chama a atenção para o desemprego jovem qualificado e não deixa de impressionar que, embora maioritariamente com baixas qualificações, muitas das pessoas em risco de pobreza auferem rendimentos do trabalho.
Como importante ponto de partida para a elaboração de políticas públicas que consigam atuar, de forma consistente, sobre as determinantes da pobreza, o estudo identifica como “agregados familiares mais vulneráveis à pobreza”, “aqueles onde os indivíduos de referência são as mulheres, os mais novos, os que têm o Ensino Básico ou habilitações inferiores, os mais desqualificados, os desempregados e os que habitam em agregados com crianças”.
De forma consistente, ao longo dos anos, o Inquérito às condições de vida e rendimento tem destacado os agregados monoparentais e os agregados com dois adultos e 3 ou mais crianças com elevadas taxas de risco de pobreza.
Ou seja, precisaremos de mais do que creches gratuitas, porque a vida da criança não se resume à idade da creche, nem os encargos acabam aí. Aguardamos.

Incómodo – O líder nacional do PSD começa a sentir-se incomodado com a proximidade entre o seu partido nos Açores e a formação da extrema-direita. Por isso sentiu necessidade de lembrar que não tem tutela nas regiões autónomas, embora manifeste o desejo de que elas o acompanhem em matéria de coligações para as autárquicas. Ficámos, também, a saber, que se for para autarca, o PSD cede no perfil do candidato, já que é mais exigente com os que se candidatam à Assembleia da República. Um mau sinal dos tempos.

Vergonha – O episódio que marcou a visita da Presidente da União Europeia, Ursula von der Leyen, e do Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, a Ancara envergonha mais o Presidente do Conselho Europeu do que o seu anfitrião. O comportamento de Recep Erdogan, sendo muito reprovável, está em linha com a sua política e com a dramática desvinculação da Turquia da Convenção de Istambul. Em linha, portanto, com o seu desprezo pelas mulheres. Agora que Charles Michel se tenha sentado na cadeira que lhe foi destinada, sem emitir o mais pequeno sinal de solidariedade com a sua colega é algo grave e inaceitável. Segundo os OCS, Charles Michel já pediu desculpa pelo incidente, também a “todas as mulheres que se tenham sentido ofendidas”. Mais do que ofendida, fico preocupada. Com a incapacidade de reação do Presidente do Conselho e com a incapacidade da Europa em lidar com Turquia.